sábado, 23 de junho de 2012

Desfalque de sete remédios

Falta de medicamentos compromete o tratamento dos pacientes

Sete medicamentos estão em falta na rede de farmácias públicas do Distrito Federal. Um deles, usado no tratamento contra artrose – que pode provocar deformidade nas mãos, joelhos e coluna –, não está disponível desde abril na Unidade de Saúde Mista de Taguatinga, onde são fornecidos gratuitamente seis desses remédios de alto custo. Segundo a Secretaria de Saúde, não há previsão de quando eles estarão novamente ao alcance da população.

Em Taguatinga, a falta dos medicamentos já é anunciada na entrada, por meio de uma faixa. Não há Dinaplex, Miosan, Suprahyal, Singulair, Levemir e Spiriva. Os produtos são responsáveis por tratar, respectivamente: artrose, espasmos musculares, osteoartrite da rótula, asma, diabete e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), que inclui bronquite crônica e enfisema. Já na Farmácia de Alto Custo da 102 Sul, não há o medicamento Arava, empregado no tratamento da artrite reumatoide, que provoca inflamações nas articulações. ...

PREÇOS

Um dos grandes problemas com a falta dos medicamentos é o custo gerado aos usuários fora das farmácias públicas, dificultando ainda mais o acesso da população. Doses mensais de remédios como Dinaflex e Singulair podem variar entre R$ 100 e R$ 150. O Suprahyal e Arava podem chegar até R$ 320, a depender da marca.

O aposentado Edimilson Vieira de Sousa, 75 anos, afirma que há pelo menos dois meses não utiliza o Dinaflex, por ser muito caro e estar em falta na unidade de Taguatinga. O medicamento é necessário para aliviar as dores causadas pela artrose crônica. “Eu não posso comprar. Já é a terceira vez que venho ao posto e não tem, e ainda falam que não tem previsão. Infelizmente, o jeito é ficar sem remédio”, lamentou Edimilson.

Já a empresária Marta Luciana Araújo, 34 anos, preferiu não esperar e decidiu comprar o Dinaflex para seu pai. Contudo, por ser muito caro, ela sempre tenta buscá-lo gratuitamente na farmácia pública, principalmente agora que sua tia também precisará do mesmo remédio. “É uma burocracia enorme para consegui-lo, e finalmente quando chegamos no posto, não tem o remédio. Um absurdo”, reclamou.

“É uma situação difícil. Só na farmácia pública poderíamos ter acesso a esses remédios. Sem eles, acaba atrasando todo o nosso tratamento”, comentou a aposentada Joyce Bueno, 73 anos, que precisa do Dinaflex para diminuir o desgaste na cartilagem entre os ossos.

A Secretaria de Saúde entregava cerca de 570 doses por dia de sulfato de glicosamina, o Dinaflex. A estimativa é de que mais de 14 mil pessoas buscavam o remédio no posto. O Dinaflex só é distribuído com a apresentação da receita médica, feita a cada 30 dias.

Demora no processo licitatório

O presidente da Sociedade de Reumatologia de Brasília, Robson Granja Cardoso, alerta que a interrupção do uso dos medicamentos é prejudicial ao tratamento dos pacientes. No caso da Dinaflex, o uso diminui a necessidade de anti-inflamatórios, que trazem efeitos colaterais negativos. Mas como a demanda é grande, acabam rapidamente nas farmácias públicas.

“São tratamentos para doenças crônicas, e tem que ser usados no resto da vida. No caso da artrite, a falta de medicamentos pode trazer sequelas graves, destruindo as articulações e podendo levar à incapacidade, até ao uso de cadeira de ro d a s ”, declarou Cardoso. “Mas a falta do Arava é o mais grave de todos, pois atende a artrite reumatoide, doença que a destruição da cartilagem é mais rápida se não for tratada a tempo”, ressaltou.

A demora no processo licitatório da compra de remédios seria um dos dificultadores este ano para a aquisição dos medicamentos. A Secretaria de Saúde informou que o pregão regular para compra dos remédios foi iniciada no ano passado, e deveria abastecer a rede por um ano. Contudo, o processo não obteve êxito, sendo necessário abrir outro.

O sulfato de glicosamina (Dinaflex), cloridrato de ciclobenzaprina (Miosan), hialuronato de sódio (Suprahyal) e brometo de tiotrópio (Spiriva) ainda estão em processo de aquisição, sem previsão estarem disponíveis. Já a insulina detemir (Levemir) está com seu estoque regularizado na Farmácia Central, com expectativa de atender a rede nas próximas semanas. Os medicamentos montelucaste de sódio 5 mg (Singulair) e leflunomida (Arava) estão em pregão e na fase mais adiantada, aguardando apenas a homologação e assinatura da ata.

Por Leandro Cipriano
Fonte: Jornal de Brasília - 23/06/2012

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