quinta-feira, 26 de julho de 2012

'Blindagem a Dirceu impediu produção de provas do mensalão na CPI dos Correios '

Sete anos depois do início das investigações, relator conta bastidores da comissão que embasou denúncia formal ao STF

Relator da CPI dos Correios, investigação parlamentar ocorrida entre 2005 e 2006 que embasou a denúncia formal do mensalão, o deputado federal Osmar Serraglio (PMDB-PR) afirma que muitas provas do escândalo não foram produzidas por causa da "blindagem" a José Dirceu. O peemedebista afirma que o ex-ministro da Casa Civil contava com uma "tropa de choque" formada por colegas de PT que barrava qualquer iniciativa. ...


"Faltou muita coisa, muito do que eles ficam batendo agora que "não tá provado isso, não tá provado aquilo" é porque a gente estava amarrado, não tínhamos liberdade. Hoje, por exemplo, o José Dirceu fala que ele não tem nada a ver com isso. Nós poderíamos ter feito provas muito mais contundentes em relação à evidente ascendência que ele tinha", diz o deputado.

A uma semana do início do julgamento do caso pelo Supremo Tribunal Federal, o relator conta nesta entrevista ao Estado os bastidores da comissão de inquérito e faz previsões sobre como deve acabar o principal escândalo do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Uma vez instaurada a CPI dos Correios, quais foram as maiores dificuldades dos integrantes?

Sem dúvida, houve dificuldades em avançar nas investigações. Havia uma resistência muito grande para qualquer requisição de documento. A CPI dos Correios, por exemplo, nunca ouviu o José Dirceu. Imagine aí o tipo de resistência que havia.

Quem foi o personagem mais blindado nas investigações?

Com certeza foi o Dirceu. É evidente que ele tinha uma ascendência, porque, de certa forma, sempre conduziu o PT. Ele tinha uma tropa de choque.

Quem fazia parte dessa chamada tropa de choque?

Não que estivessem dentro da CPI agindo sob orientação do Dirceu, mas a tropa de choque que dificultava a evolução da investigação era foramda por (Carlos Augusto) Abicalil, (Jorge) Bittar e Ideli (Salvatti, hoje ministra de Relações Institucionais do governo Dilma Rousseff), que era senadora à época.

Olhando hoje as acusções, faltou alguma coisa que poderia ter sido pedida pela CPI?

Faltou muita coisa, muito do que eles ficam batendo agora que "não tá provado isso, não tá provado aquilo" é porque a gente estava amarrado, não tínhamos liberdade. Hoje, por exemplo, o José Dirceu fala que ele não tem nada a ver com isso. Nós poderíamos ter feito provas muito mais contundentes em relação à evidente ascendência que ele tinha.

Sobre qual dos 38 réus pesam as provas mais contundentes?

Os que conduziam tudo isso. É só pegar a linha. A defesa do Dirceu disse que ele não tinha nada. E ainda temos que acreditar? Pela agenda do Dirceu, ele recebia Marcos Valério, os caras do BMG, do Banco Rural. E ele alegou que não era ele quem montava a agenda, que não sabia quem receberia. Quer dizer que ele abriu a porta do gabinete e apareceu lá dentro o pessoal do BMG? Está nos autos. Agora um ministro do Supremo vai acreditar que ele não sabia quem recebia em seu gabinete e abria a porta e era surpreendido pelas pessoas? Falácia! Poderíamos ter quebrado mais sigilos No meio do caminho criou-se a CPI do Mensalão (sobre a qual o governo tinha ainda mais controle) e tiraram tudo da gente. A partir dela, só investigamos a origem do dinheiro e não o destino. Para onde foi? Não podíamos investigar.

A investigação da CPI do Mensalão não foi contundente?

Claro que não. Foi uma jogada inteligente, porque desde lá começou essa história de que o mensalão era apenas caixa 2. A criação da CPI do Mensalão foi para que nós não investigássemos para onde tinha ido o dinheiro. Foi uma manobra.

Quem pilotou essa manobra?

Se eu ficar falando vão achar que o deputado só pensa naquilo, vão se vitimizar...

O senhor sofreu algum tipo de pressão durante a CPI?

Não ameaças. Mas com certeza devia ter muita gente me grampeando porque eu não tinha possibilidade de falar no telefone nem no celular nem o fixo de casa, de tanto que caía. Com certeza eram grampos.

Acha que muita gente vai ser absolvida no julgamento?

Acho que tem muitas situações nesse caso. E nós reconhecemos. Não dissemos que todas as pessoas estavam metendo a mão em dinheiro público. Pegamos a origem do dinheiro: público, passaram para o Marcos Valério, que fazia remessas. E essa história de ser só caixa 2 é uma confissão. É preciso apresentar documento legal à Justiça Eleitoral. E esse documento é falso! Você não vai responder por crime de falsidade ideológica? Não há consequência nenhuma? E você confessa com todas as letras que assinou esse documento... Você burlou, fraudou documentos e não tem consequência criminal nenhuma?
Por Débora Bergamesco
Fonte: Jornal O Estado de São Paulo - 26/07/2012 - 10:05

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