segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Agnelo, não dê sorte para o azar

Desde que assumiu o governo, em janeiro de 2011, Agnelo Queiroz (PT) teve poucos momentos de calmaria. As turbulências em sequência minaram parte de sua popularidade. O governador sofreu com fogo amigo, denúncias de ex-camaradas até o nome envolvido na CPI que investiga os negócios do contraventor Carlinhos Cachoeira. ...

Agnelo conseguiu sobreviver. Acalmou os antigos correligionários e cessou as chantagens, contornou a disputa pelo poder dentro do Palácio do Buriti. Por fim, saiu-se bem no depoimento a CPI no Congresso Nacional.

Mas nada disso garante paz ao governador. É preciso estar atento 24 horas. Pisando em ovos. A situação de Agnelo não é nada boa. Ele foi eleito num período conturbado da política brasiliense. Herdou problemas e modelo de administração contaminado. Soma-se a isso um partido cheio de vaidades e divisões.

O governador tem inimigos por todos os lados. Dentro do PT, na sua base aliada, nos gabinetes no Buriti. Quem menos lhe dá trabalho é a oposição, controlada por inanição ou por pressão de malfeitos antigos descoberto pela equipe de inteligência ligada ao governador.

Diante disso, Agnelo não tem o direito a descanso. Até para manter a sobrevivência política. A boa atuação na CPI não lhe deu o sossego esperado. Não basta apenas ter um vigilante, é preciso estar vigilante. A ausência prolongada da cidade pode ser desastrosa. A última semana provou isso.

Foi uma semana que deve servir de lição política para Agnelo. Começou com o Superior Tribunal de Justiça (STJ) atendendo pedido do Ministério Público Federal. A corte abriu inquérito sobre o suposto envolvimento do governador com o grupo de Carlinhos Cachoeira.

Depois da demora de dois meses após a CPI do Cachoeira aprovar a quebra dos sigilos fiscal, bancário e telefônico, de e-mail e SMS de Agnelo, o Banco de Brasília (BRB) fez os dados chegar a comissão. Com os dados, mais uma polêmica envolvendo o governador e um fantasma que assombra o governo desde o início: o PM João Dias.

Os dados bancários registram três depósitos de R$ 2,5 mil cada um (total de R$ 7,5 mil) na conta do policial militar João Dias Ferreira, delator do suposto esquema de corrupção no Ministério do Esporte que levou à demissão do ex-ministro Orlando Silva.

João Dias age por impulso. As vezes de forma atabalhoada e inconsequente, como na invasão do Palácio do Buriti. Emissários conseguiram controlado o militar, mas os dados bancários trouxeram de volta o noticiário negativo. E isso é ruim para a imagem do governo. Passou a impressão de que houve suborno.

Nota divulgada na quinta-feira (23), assinada por Ugo Braga, porta-voz do GDF, diz que os depósitos são referentes à compra de um carro usado. Um Honda Civic, modelo 2006/2007.

“A transação foi feita em fevereiro de 2008, mediante a entrega de 10 cheques nominais pré-datados, mas acabou desfeita pouco mais de dois meses depois, com a devolução do carro e a restituição dos cheques”, diz o texto.

Resultado: a CPI do Cachoeira que vinha cambaleando, promete intensificar as investigações sobre Agnelo Queiroz e também ao governador goiano Marconi Perillo (PSDB), citado em novas gravações.
Para agravar, a Polícia Civil resolveu entrar em greve. Sete dias de paralisação, iniciados na quinta-feira (23). Apenas casos graves serão registrados nas delegacias. Os policiais civis reivindicam o cumprimento de acordo fechado com o governo na última paralisação, no ano passado.
Agnelo está em Buenos Aires, na Argentina, onde a filha dele mora. Sua viagem pode até ter uma motivação pessoal que não se tornou pública. Afinal, todos tem uma vida particular e familiar. E é preciso respeitar isso. Mas, politicamente, foi uma ausência inconveniente.
Por Ricardo Callado
Fonte: Blog do Callado - 27/08/2012

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