segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Do sindicalismo ao Poder da República: a volúpia petista

Estou estarrecido com o desenrolar do julgamento do Mensalão. O que temos visto e lido na imprensa e nas redes sociais nos dá calafrios. Os ataques aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e a recente entrevista de Luiz Fux à Folha de São Paulo, revelando como se deu sua nomeação para o cargo de ministro da Suprema Corte, confirmam a desconfiança de que o Partido dos Trabalhadores (PT) imaginou, um dia, ter conseguido comprar os homens de togas pretas, tal como fizera com os mensaleiros. Não sei como esta história irá terminar, mas sei como iniciou. ...

O sindicalismo deu origem a tudo. No fim dos anos de 1970 e começo dos anos de 1980, impulsionados pelas greves de metalúrgicos do ABC paulista, lideradas por Lula, as correntes petistas iniciaram a retomada dos sindicatos, país afora, das mãos dos que elas chamavam de “pelegada”. Como um animal de caça à espreita, o petismo foi se apropriando da luta dos trabalhadores e da estrutura sindical.

A via para chegar ao poder central do país estava desenhada. Do movimento sindical, o PT absorveu muitos ensinamentos, especialmente, a prática de aproveitar ao máximo da máquina que dirige e a maneira de tratar seus adversários – desqualificando-os.

Nos sindicatos, guardadas as devidas proporções em relação à máquina pública, os petistas tomaram conta das estruturas disponíveis. Podiam contratar pessoal sem concursos e usar o dinheiro da contribuição sindical como bem desejassem. Ah! Sem esquecer que tinham o poder de sentar à mesa dos patrões banqueiros e empresários, criando uma promíscua e danosa união.

A máquina sindical também foi utilizada, sem dúvida, tanto em recursos humanos como financeiros, para se alcançar vitórias eleitorais. Muitas lideranças foram projetadas nacionalmente, das quais muitos viraram vereadores, prefeitos, deputados e senadores.

Em 1983, criaram a Central Única dos Trabalhadores (CUT), de grande envergadura financeira, para aglutinar os sindicatos sob o comando vermelho. Vários vícios e desvios éticos foram adquiridos ao longo desses anos.

Diversos escândalos em razão desse uso indiscriminado da máquina foram denunciados. A história da Bancoop (Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo) é o caso mais emblemático de como o PT se apropria da estrutura de uma entidade que dirige. Mas existem outros casos. Se colocarmos uma lupa no Movimento de Trabalhadores Sem-Terra (MST), braço direito e armado do PT, iríamos saber qual é o verdadeiro destino dos recursos da reforma agrária.

O PT chegou ao poder central em 2003 pela via institucional e, desde então, vem trabalhando para ter o controle total sobre o Estado. Com ele, trouxe as mesmas táticas utilizadas nos sindicatos no intuito de perpetuar-se no poder. Algumas lideranças sindicais, muitas ainda inebriadas pelo poder sindical, passaram a ocupar cargos importantes na administração pública, usando, sem cerimônia, das benesses do Estado.

Também chegam a ser hilários, dignos de comédia, os tipos de mimos recebidos por esses petistas empoderados de seus corruptores. A maioria deles, “bagrinhos”, se vende por tão pouco, diante da magnitude da responsabilidade de ocupar um cargo público. Uma cirurgia plástica, uma Land Rover, uma viagem ao exterior, um emprego para o filho, um cruzeiro de Santos ao Rio de Janeiro animado pela dupla sertaneja Bruno e Marrone, uma assinatura de 50 mil reais de uma TV a cabo ou outro agrado qualquer basta para que o “favor” seja prontamente atendido. Não posso falar o mesmo dos tubarões. Esses, com certeza, se agarram, todas as noites, aos seus “travesseiros” de fartos recheios com as logomarcas da Queiroz Galvão, OAS, etc e tal.

Há um movimento do PT – antes velado, agora, não mais – de querer tomar para si as instituições públicas e transformá-las no “quintal” de sua própria casa. O episódio da Rosemary, a ex-chefe do “Planaltinho”, em São Paulo, cujo escritório é decorado com estampas alusivas ao ex-presidente Lula, e a tentativa de “compra” de ministros do STF, ilustram bem o que estou dizendo. Resumindo: para os petistas, a coisa, sob o seu controle, deixou de ser pública para se tornar privada.

Volto a tocar no assunto da nomeação do ministro Fux, que deve estar causando dores de cabeça a ele. É óbvio que o PT foi preponderante para a sua escolha e a da maioria dos ministros do STF. O que deu a entender pelo teor de sua entrevista, que a sua indicação virou uma questão partidária, e da mais alta relevância, merecendo todo cuidado para evitar dissabores lá na frente. Afinal, o julgamento do mensalão estaria em pauta e o partido não poderia permitir que os seus principais líderes corressem algum tipo de risco. Depois de todo corre-corre de Fux, conversando aqui e acolá com pessoas próximas da presidente Dilma e até mesmo com o réu José Dirceu para lhe garantir a toga, o martelo foi batido em favor de seu nome. Pronto! O negócio estava selado. “Te dou a toga e você me dá a absolvição”. Imagino que este deva ter sido as juras trocadas entre Dirceu e Fux.

José Dirceu e o PT foram “vítimas” da mais inocente das traições, pois acreditaram que a nomeação de Fux seria um voto a favor no julgamento do Mensalão. Moral da história: “deram com os burros n’água”.

Digo e repito: não há ninguém inocente ou “gaiato no navio”. E se alguém entrou pelo cano, não foi por engano.

Finalizo para também fazer coro aos que defendem a escolha de ministros de tribunais superiores e desembargadores por concurso público. Não é razoável que o ocupante de um cargo tão importante, que sempre deve manter a imparcialidade, seja escolhido por um agente político como se esse não tivesse nenhum interesse na sua indicação.

O papo é esse!

*Jornalista e Advogado

Fonte: Paulo Henrique Abreu - 09/12/2012

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