quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Lula: 'Vagabundo falando mal de mim vai perder'

Ex-presidente diz que fará viagens pelo país em 2013 para "conversar com o povo"
Em meio a gritos de guerra como "um, dois, três, é Lula outra vez" e "Lula é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo", dirigentes de partidos e de movimentos sociais transformaram a posse de Rafael Marques na presidência do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo em ato de desagravo ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acusado em depoimento recente do publicitário Marcos Valério de saber e de ter se beneficiado do esquema do mensalão. ...

O ato na entidade que foi presidida por Lula nos anos 70 contou com a participação de dirigentes do PT, do PCdoB, da Central Única dos Trabalhadores (CUT), da União Nacional dos Estudantes (UNE) e do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).

Lula promete voltar em 2013

O ex-presidente não mencionou diretamente a possibilidade de disputar um cargo eletivo, mas disse que, depois de ter deixado Dilma construir um governo com identidade própria e de dedicar um ano ao tratamento de um câncer, voltará à política em 2013 em uma série de viagens pelo país para "conversar com o povo brasileiro" e defender seu legado. Lula atribuiu os ataques que vem sofrendo a setores da imprensa e a adversários políticos.

- Só existe uma possibilidade deles me derrotarem: é trabalhar mais do que eu. Mas se ficar um vagabundo, em uma sala com ar condicionado, falando mal de mim, vai perder - disse o ex-presidente, citando a necessidade de viajar para "ajudar a presidente Dilma" e ganhar mais estados e prefeituras, "para a alegria de muitos e tristeza de poucos", segundo ele.

Em depoimento à Procuradoria Geral da República (PGR), Marcos Valério disse ter pago despesas de Lula por meio de uma empresa de Fred Godoy, que foi segurança particular do ex-presidente. Disse também ter recebido o seu aval para que viabilizasse os empréstimos obtidos junto ao Banco Rural, considerados forjados pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Na última semana, Lula declarou laconicamente que as acusações eram mentirosas.

No evento em São Bernardo, o ex-presidente afirmou acreditar que o seu "sucesso" como presidente do Brasil seria a motivação dos ataques:

- O que mais machuca os meus adversários é o meu sucesso. Eu às vezes compreendo a mágoa deles. Tem gente que olha na minha cara e pensa que eu sou burro, mas eu tenho um pouco de inteligência, consigo compreender o jogo que eles fazem. Desde a época (em) que Cabral botou os pés aqui tivemos advogado, médico, dentista, engenheiro, empresário, fazendeiro, industrial, tudo governando este país. (...) Como podem suportar que este metalúrgico analfabeto dobrou em oito anos o número de estudantes em universidades? - discursou.

O ex-presidente não nominou quem seriam os adversários por trás dos ataques, mas disse que, em 2002, teve a impressão de que Fernando Henrique Cardoso o preferia ao tucano José Serra, por apostar em seu despreparo para governar. Lula comparou o fato à ocasião em que foi eleito presidente do sindicato pela primeira vez e, "por não saber falar direito", dirigentes apostavam no seu fracasso para "em três anos voltarem por cima da carne-seca".

- Como eles previam o meu fracasso, eu era o próprio Titanic, mas sem Romeu e Julieta, só eu e o povo. Eles não perceberam a construção que nós fizemos - disse o ex-presidente.

Para Lula, seus adversários se incomodam por não terem sido responsáveis por avanços que ele atribui a seu governo.

- Ver os pobres viajarem de avião, as pessoas trocarem de carro todo ano, isso deixa eles muito irritados. Porque tinha que ser eu fazendo tudo isso, e não eles, se eles governaram antes de mim? Eles tinham unanimidade na imprensa, foram oito anos de pensamento único, não tinha nada contra, era tudo favorável - sustentou Lula.

No palanque, o presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, atribuiu os ataques à elite brasileira, que estaria disposta a "jogar no tapetão e no Judiciário" contra Lula porque "não consegue ganhar as eleições". O presidente do PCdoB, Renato Rabelo, também atacou setores da imprensa e adversários:

- Tentam criminalizar a política e os movimentos sociais, mas não vão conseguir - afirmou o presidente do PCdoB.

Por Thiago Herdy

Fonte: O Globo - 20/12/2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário