terça-feira, 8 de janeiro de 2013

A cara da Educação Pública no DF II

Uma escola esquecida

O cheiro forte que lembrava ovos podres e as dores de cabeça, as náuseas e os vômitos que atingiam alunos e funcionários da Escola Classe 01, na Estrutural, acenderam um alerta para o perigo que espreita a cidade construída em cima de um aterro irregular de lixo. ...

Após algumas interdições parciais no início do ano passado, o colégio que abrigava 1.400 estudantes do ensino fundamental foi totalmente lacrado pela Defesa Civil em 29 de maio porque havia risco de explosão, segundo avaliação dos técnicos.

Um gás não identificado brotava do subsolo e deixava o ar irrespirável em alguns dos cômodos do prédio, incluindo salas de aula. Imediatamente surgiu a suspeita de que a fonte do gás seria o processo de decomposição do lixo que foi depositado na área durante décadas sem nenhum tipo de controle ambiental.

A cidade, que hoje tem cerca de 35 mil habitantes, nasceu de uma invasão de catadores que se formou em cima desse aterro ilegal durante os anos 1990. Agora o poder público teme que bolsões de gás venenoso possam estar pressionando o solo e colocando a população em risco, mas um mapeamento planejado após a interdição da escola acabou não sendo feito.

Transferência “provisória”

Após a interdição da escola, os alunos e professores foram acomodados em salas de dois colégios no Plano Piloto e um no Guará. Segundo a Secretaria de Educação, era uma solução temporária enquanto uma empresa contratada emergencialmente faria a análise do gás e apresentaria soluções

para que o prédio fosse reaberto.

Oito meses depois, porém, nenhuma obra foi feita no local e o patrimônio público tão caro para a comunidade carente está se deteriorando sem uso. Por cima do muro da escola é possível ver que o mato alto já tomou conta dos jardins, do parquinho e da quadra poliesportiva.

Logo atrás do portão de entrada, dezenas de carteiras escolares de madeira estão toscamente empilhadas, formando uma pequena montanha e tomando sol e chuva. “É triste. Meus meninos moravam em frente à escola e eu sabia tudo da vida deles”, lamenta a dona de casa Josiane Silva, 45. “Depois foram lá para o Plano e foi bem difícil. O ônibus demora. Eu não sei o que eles fazem lá e até as notas caíram”, completa ela, que tem um casal de filhos em idade escolar.

A perspectiva da comunidade escolar para 2013 não mudou. A escola continua sem previsão de reabertura e os alunos continuarão tendo que estudar longe de casa. Procurada, a Secretaria de Educação não forneceu informações sobre a resolução dos problemas.

Mapeamento das áreas de risco nunca saiu do papel

Como a Estrutural cresceu em cima de um aterro irregular de lixo, é baixa a chance de que o vazamento de gás do subsolo seja um problema isolado da área onde a Escola Classe 01 foi construída, logo na entrada da cidade e vizinha a outros prédios públicos, como mais uma escola e o restaurante comunitário.

Por isso, o GDF anunciou em maio do ano passado um grande mapeamento das áreas que poderiam oferecer risco. O então chefe da Coordenadoria de Planejamento e Gestão da Casa Civil,

Turene Alves Filho, disse ao Metro na época que o trabalho seria feito em etapas, primeiro estudando antigos mapas do aterro e depois prospectando o solo com sondas. “Sabemos que a decomposição do material orgânico libera gases tóxicos. Como houve esse caso na escola, a existência de bolsões é uma possibilidade concreta”, disse ele.

O gestor, no entanto, acabou deixando o GDF no início do processo, que acabou engavetado.

Por Raphael Veleda
Fonte: Jornal de Metro Brasília - 07/01/2013

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