sexta-feira, 26 de abril de 2013

26 DE SETEMBRO - TERRA DOMINADA PELA GRILAGEM

Ministério Público recebeu denúncias sobre parcelamento ilegal na Colônia 26 de Setembro, chamada de Vicente Pires 2, há cinco anos. Expansão urbana seria contida por monitoramento recomendado pela Prourb, o que não ocorreu

Denúncias sobre o parcelamento irregular das terras da Colônia Agrícola 26 de Setembro começaram a chegar ao conhecimento das autoridades do Distrito Federal em 2008. Naquela época, a ocupação predominante no local ainda era de glebas com características e dimensões rurais, e não havia indícios consistentes de fracionamento em unidades menores que caracterizariam o parcelamento urbano. Realidade completamente diferente da encontrada hoje na área do tamanho de quase mil campos de futebol entre Taguatinga e Brazlândia. As chácaras já servem de moradia para mais de seis mil pessoas e se transformam aos poucos em um grande loteamento ilegal, conhecido como Vicente Pires 2, conforme o Correio mostrou na edição de ontem. ...

Em agosto de 2008, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) recebeu uma acusação de que havia parcelamento irregular do solo e tentativas de grilagem na área, vizinha ao Parque Nacional de Brasília. Por meio de um ofício, os promotores alertaram a extinta Subsecretaria de Defesa do Solo e da Água (Sudesa), e o órgão informou não haver indício de parcelamento irregular, mas somente uma ação pontual na área. Os técnicos da Promotoria de Justiça de Defesa da Ordem Urbanística (Prourb), então, elaboraram um parecer. O documento constatou que, há cinco anos, a colônia agrícola ainda era zona rural. Mesmo assim, novas denúncias não pararam de chegar ao MP.

Dessa forma, em setembro de 2011, o órgão emitiu uma recomendação para que a Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do DF, com outros cinco órgãos do governo, monitorasse permanentemente o 26 de Setembro para coibir a expansão urbana na área rural. Deveriam vigiar a área também a Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap), o Comitê de Combate ao Uso Irregular do Solo, o Grupo de Análise de Parcelamentos (Grupar), a Agência de Fiscalização (Agefis) e o Batalhão Ambiental da Polícia Militar. O MP também instaurou um inquérito policial para investigar a atuação de grileiros na região e o encaminhou para a Delegacia Especial do Meio Ambiente (Dema).

 Os avisos não impediram a especulação imobiliária na área. As chácaras são parceladas, e lotes de 400 metros quadrados, ofertados livremente em várias faixas espalhadas pelo local. Ontem, após as denúncias do Correio, a Secretaria de Ordem Pública e Social (Seops) derrubou três casas em construção na Colônia Agrícola, embargou uma obra e intimou outra para ser demolida, todas na rua principal. O secretário da pasta, José Farias, prometeu intensificar a fiscalização, impedir o crescimento da invasão e identificar os grileiros. “O brasiliense tem a cultura de invadir para depois regularizar, como aconteceu no passado, quando as invasões cresceram a tal ponto de não serem derrubadas, mas isso não vai ocorrer desta vez”, garantiu.

Uso rural

De acordo com o Plano Diretor de Ordenamento Territorial (Pdot), a área do 26 de Setembro é de uso rural controlado e não pode haver ocupação urbana no local. Portanto, não há projeto urbanístico elaborado para a região em análise pelo GDF nem possibilidade de regularização fundiária do setor. A terra pertence à Terracap, mas está em processo de transferência para a União. Como faz parte da Floresta Nacional de Brasília (Flona), a gestão da gleba ficará a cargo do Instituto Chico Mendes. No local, podem existir atividades agrícolas sustentáveis, desde que licenciadas pelo órgão ambiental.

A Dema também investiga a ação dos grileiros no local. O delegado-chefe da unidade, Ivan Dantas, não soube precisar quantos inquéritos estão abertos, mas garante que há “muitas” investigações em andamento, algumas delas concluídas com denúncias feitas à Justiça. “O problema é que as penas são pequenas, os criminosos saem em liberdade provisória e voltam a cometer o crime”, lamenta. “Nosso serviço de inteligência trabalha para enquadrar os grileiros em crimes de formação de quadrilha e crime ambiental, além de parcelamento irregular do solo. Assim, a pena pode aumentar para até 13 anos e podemos pedir a prisão preventiva dos acusados”, conclui o delegado. O crime de parcelamento irregular do solo tem pena de um a cinco anos de prisão.


Ação em Planaltina
A Secretaria de Ordem Pública e Social (Seops), com a Delegacia Especial do Meio Ambiente (Dema), prendeu ontem 21 pessoas que tentavam invadir uma área pública na Estância 3, em Planaltina destinada ao Programa Morar Bem. A área de 12 hectares pertencente à Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap) é monitorada desde o último dia 13, e 57 prisões foram feitas. O Comitê de Combate ao Uso Irregular do Solo derrubou 400 edificações irregulares no local. No momento do flagrante, os invasores erguiam os barracos e demarcavam lotes com pedaços de madeira e barbante. Segundo a Seops, há uma tentativa de invasão em massa da área, onde a Companhia de Desenvolvimento Habitacional do DF (Coodhab) vai construir 4,2 mil unidades habitacionais para os inscritos no Morar Bem.


Por Gizella Rodrigues
Fonte: Correio Braziliense - 26/04/2013


Nenhum comentário:

Postar um comentário