quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Operação Átrio- Investigadores afirmam que intercepções telefônicas são provas robustas de esquema

Ex-administrador de Taguatinga Carlos Jales recebe alta e está na carceragem do DPE

Em pelo menos seis meses, a Polícia Civil e o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) acumularam escutas telefônicas que revelam ingerência, pagamento de propina e troca de favores entre administradores regionais, políticos e empresários do DF. ...

O esquema foi revelado durante investigação que apura irregularidades na concessão de alvarás para construção de grandes empreendimentos em Taguatinga e em Águas Claras. As provas constam no inquérito que levou à prisão dois administradores, na semana passada. Outros 12 empresários e comerciantes também são investigados. Ontem, após ter a detenção prorrogada, o ex-gestor de Taguatinga Carlos Alberto Jales recebeu alta médica e foi levado para a carceragem do Departamento de Polícia Especializada (DPE).

A investigação que resultou na Operação Átrio teve início em 2011, mas as interceptações dos últimos meses, autorizadas pela Justiça, reforçam a proximidade e as irregularidades dos investigados. As escutas revelam que empresários “presenteavam” os gestores para conseguir alvarás de construção em até duas semanas, quando o processo legal poderia demorar até um ano. Para conseguir as autorizações, é necessária a apresentação de vários documentos, entre eles relatórios de impacto de trânsito e ambiental. Mas o pré-requisito, segundo as investigações, era ignorado em troca de dinheiro, apartamentos, viagens e favores políticos. Os investigadores garantem que as provas colhidas são robustas e comprovam a ação de cada investigado dentro do grupo.
  
O ex-gestor de Taguatinga estava em um hospital particular na cidade desde a última sexta-feira


Prisões

Entre os suspeitos estão os ex-administradores Carlos Jales e Carlos Sidney, então gestor de Águas Claras. Os dois foram exonerados no dia da operação — quinta-feira passada. O ex-vice-governador do DF Paulo Octávio e outros 11 empresários e comerciantes também prestaram depoimento na Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Deco). Segundo as investigações, pelo menos seis grandes empreendimentos — entre eles o Centro Clínico de Taguatinga e o JK Shopping & Tower — foram beneficiados com o esquema irregular.

Na última segunda-feira, o MP e a polícia conseguiram prorrogar as prisões temporárias dos dois ex-administradores. Carlos Sidney foi beneficiado com a prisão domiciliar e está sob escolta em um sítio da família dele, em Brazlândia. Carlos Jales, que fugiu pouco antes da Operação Átrio (veja Cronologia), recebeu alta do Hospital Santa Marta na tarde de ontem. Foi levado diretamente para o Departamento de Polícia Especializada (DPE) para prestar o primeiro depoimento — estava internado com hipertensão e não havia sido ouvido pelos investigadores.

Apoio

Indicado para a administração de Taguatinga pelo deputado distrital Washington Mesquita (PTB), Carlos Jales não teve apoio do político. O parlamentar reapareceu na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) ontem, após voltar de missão oficial do GDF à Alemanha e à Bélgica, e se disse “perplexo” com o envolvimento de seu pupilo nas supostas irregularidades. “Fui pego de surpresa, assim como todo mundo em Brasília. Não vou julgá-lo, isso cabe à Justiça. Mas não compactuo com irregularidades”, disse.

Washington Mesquita foi eleito em 2010 com base na comunidade católica de Taguatinga, com o apoio do padre Moacir Anastácio, organizador da tradicional festa de Pentecostes. Ele era filiado ao PSDB, mas passou pouco tempo no partido de oposição, logo aderindo à base do governo. O apoio do distrital lhe deu o direito de indicar o administrador regional de Taguatinga. Antes de virar petebista, o deputado tinha se filiado ao PSD.

Ontem, o parlamentar disse que não chegou a conversar com Carlos Jales após o ocorrido, já que ele está sob custódia da polícia. “Ele trabalhou pela minha eleição e é morador de Taguatinga há 30 anos. Até esses fatos, eu não sabia de nada que desabonasse sua ficha”, disse Washington. De qualquer maneira, o distrital garantiu que o ex-administrador já foi afastado de seu grupo político em Taguatinga.

Cronologia

2011 

O Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) começou a investigar um esquema com supostas irregularidades na concessão de alvarás de construção de empreendimentos em Taguatinga e Águas Claras. A Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Deco) abriu inquérito para apurar as irregularidades e monitorou os suspeitos.

2013
7 de novembro 

Após quase 2 anos de investigação, a Polícia Civil e o MPDFT deflagraram a Operação Átrio para desarticular o grupo suspeito de participar de pagamento de propina para liberação de alvarás de grandes empreendimentos em até 15 dias. Foram expedidos dois mandados de prisão temporária para os então administradores de Taguatinga e de Águas Claras, Carlos Jales e Carlos Sidney, respectivamente. Carlos Sidney foi preso em casa. Jales fugiu pouco antes da ação. Outras 12 pessoas, entre elas empresários, comerciantes e o ex-vice-governador Paulo Octávio, foram levadas para a Deco a fim de prestar esclarecimentos.

8 de novembro 
Representantes de Carlos Jales entraram em contato com a polícia e informaram que o gestor estava internado em um hospital particular em Taguatinga, após ter uma crise de hipertensão. Carlos Sidney, que também recebeu atendimento médico no Hospital de Base do Distrito Federal, conseguiu prisão domiciliar. Ele deixou a cela que ocupava no Complexo Penitenciário da Papuda e foi para um sítio da família, em Brazlândia. A polícia garante não ter sido informada sobre o endereço.

11 de novembro 
Policiais e promotores pediram na Justiça a prorrogação das prisões temporárias por mais cinco dias e a revogação da prisão de domiciliar de Carlos Sidney. Conseguiram manter os dois ex-administradores detidos, mas Carlos Sidney continuou com o direito de cumprir a prisão em casa.
Fonte: Kelly Almeida - Almiro Marcos- Correio Braziliense - 13/11/2013

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