terça-feira, 1 de abril de 2014

Mensalão do PT: Mesmo preso, condenado faz política

Em um único dia, além dos dois deputados, outras dez pessoas estiveram no local e saíram ou abraçadas pelo próprio Valdemar ou acompanhadas pelo motorista que o busca no presídio


Condenados no mensalão autorizados a sair da cadeia para trabalhar foram vistos, nas últimas semanas, burlando normas da Justiça do Distrito Federal para fazer contatos políticos, ir à Igreja, encontrar familiares e passar no "drive-thru" do McDonald's. ...


Por três semanas, a Folha acompanhou a rotina de presos que deixam pela manhã o CPP (Centro de Progressão Penitenciária) para trabalhar e voltam à noite.

Estão nesta situação o ex-deputado e ex-presidente do PR Valdemar Costa Neto, o ex-tesoureiro do partido Jacinto Lamas e o ex-deputado Bispo Rodrigues.

O ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares também foi autorizado a trabalhar, mas suas atividades estavam temporariamente suspensas à época em que a reportagem observou a rotina dos presos.

Empregado como gerente administrativo de um restaurante industrial, Valdemar recebeu o líder do PR, Bernardo Santana (MG), e o deputado Vinícius Gurgel (PR-AP) em duas oportunidades cada no local de trabalho.

A Folha apurou que o líder do PR se reuniu com Valdemar, condenado a 7 anos e 10 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, para discutir, entre outros assuntos, como o partido iria se posicionar diante do blocão, grupo de deputados aliados que se rebelava contra o governo. À época, o PR também negociava seu espaço na reforma ministerial.

Em um único dia, além dos dois deputados, outras dez pessoas estiveram no local e saíram ou abraçadas pelo próprio Valdemar ou acompanhadas pelo motorista que o busca no presídio.

Um dia antes, Valdemar foi a uma consulta médica num centro comercial para a qual tinha autorização da chefia do presídio. Ao deixar o local, no final da tarde, o carro em que estava entrou no "drive-thru" do McDonald's, distante cerca de 19 quilômetros de seu local de trabalho.

Jacinto Lamas, que cumpre pena de 5 anos de prisão por lavagem de dinheiro, saiu às 6h30 da cadeia nos dias 10 e 11 de março e parou na paróquia Nossa Senhora de Guadalupe, na Asa Norte, região central de Brasília, antes de chegar ao trabalho às 8h.

Também nos dois dias, antes de entrar no local onde está empregado, Lamas fez caminhadas em frente ao centro comercial onde fica o escritório da empresa. No dia 11, ele se encontrou com a mulher Romi Adriani Poffo no estacionamento do local.

De acordo com as normas do Tribunal de Justiça do DF, o trabalho para presos em regime semiaberto deve ocorrer exclusivamente dentro da empresa, "sob fiscalização direta do empregador ou responsável indicado" e "excepcionalmente o sentenciado poderá se deslocar do local de trabalho até cem metros, durante o horário de almoço, para fazer suas refeições".

O diretor do CPP, Carlos Henrique Gomes Lima, afirmou que a lei não permite os flagrantes feitos pela reportagem. "A autorização é para ir trabalhar e voltar. Qualquer outra movimentação precisa de autorização", disse.

A permissão para atividades excepcionais ou até para desvio do percurso da cadeia ao local de trabalho precisa ser obtida junto à direção do presídio ou diretamente à VEP (Vara de Execuções Penais), o que não havia ocorrido à época.

Bispo Rodrigues deixou o presídio, nos dias em que a Folha o acompanhou, e se dirigiu para uma rádio ligada à Igreja Universal.

Ele foi condenado a 6 anos e 3 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

OUTRO LADO

O advogado de Valdemar Costa Neto, Marcelo Bessa, afirmou que o encontro de seu cliente com o líder do PR, Bernardo Santana, deveria ser relativo ao pagamento da multa imposta ao seu cliente no julgamento do mensalão."Tem gente que está se cotizando para pagar a multa. Estão indo lá tratar disso. Valdemar está trabalhando normalmente", disse.

Santana primeiro negou ter ido no dia 20 ao restaurante onde Valdemar trabalha. Quando a reportagem falou que havia uma foto dele deixando o local às 12h35, o deputado admitiu a visita. "Se tem foto, pode publicar. Espero ter saído bem", disse.

Vinícius de Azevedo Gurgel (PR-AP) disse que eles não conversaram sobre política, apenas sobre o dia a dia do ex-deputado. O dono do restaurante onde Valdemar trabalha não foi encontrado.

O advogado de Jacinto Lamas, Délio Lins e Silva, afirmou que "não há problema nenhum no fato dele [Lamas] encontrar com a esposa". Sobre a ida à Igreja, o advogado também não vê problemas. "Ele fez a bênção dele lá". A mulher de Lamas não quis comentar o encontro.


Fonte: MATHEUS LEITÃO, SÉRGIO LIMA, MARIANA HAUBERT, MÁRCIO FALCÃO e SEVERINO MOTTA coluna Poder

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