quinta-feira, 15 de maio de 2014

Era o que faltava

O curioso é que o radicalismo petista, antes nutrido por ranços ideológicos, agora se inflama pela defesa das ilegalidades cometidas.



Segundo reportagem do Estadão, recursos do fundo partidário foram usados pelo PT para pagar os advogados de Rosemary Noronha, ex-chefe de gabinete da Presidência em São Paulo. Suspeita de integrar um esquema de venda de “facilidades” na administração pública, Rosemary, assim como outros filiados petistas encrencados com a Justiça, teria custeado sua defesa com dinheiro dos impostos dos contribuintes.

Empregar recursos públicos para defender pessoas acusadas de lesar o Estado é a quintessência do cinismo e do deboche. Aqui, o poder público passa a ser o avalista de uma operação de risco. Caso um militante-delinquente seja pego burlando a lei ou surrupiando cofres públicos, o partido, com o dinheiro do cidadão, paga sua defesa. É uma espécie de “seguro ladrão” – obviamente ilegal e imoral. ...

A lei é cristalina quanto à aplicação desses recursos. Ela proíbe que despesas pessoais sejam pagas com o fundo partidário. Embora quase R$ 1 milhão tenha sido pago pelo PT – com o fundo partidário – aos advogados de Rosemary, eles juram que os honorários do processo por tráfico de influência, formação de quadrilha e corrupção passiva foram “cortesia”. Os repasses do partido ao escritório teriam servido para quitar outras causas.

Cada vez mais infestada pelo partido, a máquina pública sofre com disfuncionalidades crescentes em vários níveis. As instituições vão sendo carcomidas por apaniguados e a agenda nacional aos poucos sucumbe a interesses enviesados. Melhor exemplo são as estatais, que fraquejam à mercê de promiscuidades diversas. Agora mais essa: financiamento público de criminalistas para beneficiários privados.

À medida em que essas espertezas vão aparecendo e a reprovação ao governo ganha voz, cresce a violência retórica do PT contra quem cruza seu caminho. Após o processo de suavização ideológica, cujas marcas foram o “Lulinha Paz e Amor” e a “Carta ao Povo Brasileiro”, o partido aos poucos vai reavivando as fagulhas de seu raivoso radicalismo. Ao perder a vergonha de mostrar o que é, o PT reencontra sua história.

O curioso é que o radicalismo petista, antes nutrido por ranços ideológicos, agora se inflama pela defesa das ilegalidades cometidas. A confusão entre o Estado e o partido é tão obscena que eles perderam a vergonha de reinvindicar legitimidade para seus desvios. Se Lula vocifera contra a Justiça, é por ela fazer valer a lei. Se o PT ataca a imprensa, é porque ela não se curva. Agora, dinheiro do fundo partidário paga advogado de militante pego no pulo. Era só o que faltava.


(*)José Aníbal é deputado federal (PSDB-SP). Artigo publicado no Blog do Noblat. 


Fonte: JOSÉ ANÍBAL - 15/05/2014 - - 07:14:38

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