quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Pacto por Brasília: "Apostar no caos piora a situação"

Governador critica sindicatos, detalha medidas de economia e afirma que vai reduzir até os gastos com alimentação em Águas Claras

Em meio a “maior crise que a cidade já viveu”, como define o governador Rodrigo Rollemberg (PSB), ele recebeu o Correio para expor a posição do Governo do Distrito Federal em relação às paralisações de servidores e à crise financeira. 

O chefe do Executivo fez críticas aos sindicatos que declararam greve nos últimos dias e classificou as decisões da gestão anterior com uma “corrupção de prioridades”....

Mais uma vez, ele pregou a necessidade de fazer um “pacto por Brasília”, envolvendo toda a população e as instituições, a fim de recuperar a cidade. Para melhorar a situação financeira, ele elencou uma série de ações que vêm sendo adotadas e antecipou: na próxima semana, serão anunciadas novas medidas para “contribuir na melhoria da arrecadação de recursos do DF”. O socialista afirmou que trabalha com cenários possíveis, mas evitou falar em aumento de impostos e da tarifa de transporte público.

Como o senhor avalia o atual cenário do Distrito Federal, com atrasos salariais e paralisações?

Vejo a cidade como cidadão que sou e também como governador, com toda a responsabilidade que tenho. Como pessoa comum, compartilho a indignação com a irresponsabilidade, com o descaso, com a incompetência, com o conjunto de atitudes ou da falta de atitudes que levaram Brasília à pior crise da sua história. Como governador, fico aflito, porque é impossível resolver todos os problemas em um passe de mágica. Tenho convicção que será preciso muita paciência, perseverança, trabalho e compreensão da população para que possamos efetivamente, na prática, fazer um pacto pela cidade. Nós só vamos sair desse caos se todas as pessoas e instituições compreenderem a gravidade da situação. Todos nós temos devemos ter participação na construção das soluções para a crise.

O senhor imaginava encontrar um quadro assim?

Só tivemos a dimensão da profundidade da crise quando tivemos acesso aos números exatos. A cada dia aparece uma novidade, porque tínhamos identificado cerca de R$ 3,1 bilhões em dívidas. Mas há empenhos que foram feitos, e posteriormente cancelados, ainda não identificados. Há um esforço na redução de cargos comissionados de livre provimento, no cancelamento de licitações que estavam em andamento. Estamos fazendo também um movimento para reduzir os gastos com salários. Por exemplo, pretendemos entregar um prédio na Asa Norte que custa R$ 970 mil mensais em aluguel.

Como o senhor tem sentido o clima das ruas?

Tenho andado na cidade e procurado estar perto da população. É o momento que conseguimos energia para enfrentar os problemas. Recebo manifestações de orações. Eu digo: reze mesmo, pois precisamos de muita oração e energia positiva. Estamos trabalhando até 18 horas por dia. 

A situação pode melhorar em um ano?

Eu diria que a gravidade é tal que, se conseguirmos, será uma grande vitória. Fomos ao Tribunal de Justiça e conversamos sobre um Fundo de Depósitos Judiciais ao qual outros estados já têm acesso para pagamento de precatórios. Estamos tentando uma solução jurídica para garantir isso no DF, pagar precatórios e aliviar o caixa. Lutamos para resolver problemas deixados pelo governo anterior, como, por exemplo, a inadimplência no CAUC (Cadastro Único de Convênios) — (sem a regularidade nesse instrumento, o ente federativo deixa de ter acesso a vários tipos de financiamentos públicos).

Qual a previsão que o senhor faz para 2015?

Será um ano difícil e duro. Mas esperamos que, em 2016, Brasília já tenha saído dessa situação muito delicada e dramática. O que anima a gente é a solidariedade da população. As pessoas dizem: você recebeu uma bomba. E eu tenho dito que é uma bomba de efeito continuado. Eles dizem assim: tenho pena de você. Mas eu digo: não tenha pena, quero que você nos ajude a enfrentar a crise e a superá-la. 

Como o senhor avalia o posicionamento dos sindicatos e servidores nas paralisações?

É do processo democrático que ocorram mobilizações. Quando falo em pacto por Brasília, é um chamamento para as pessoas compreenderem o papel de cada instituição nesse momento. O caos não interessa a ninguém. Estamos nos esforçando para construir uma solução. Mas é claro que algumas são impossíveis, porque não temos dinheiro. Um exemplo: tomamos a decisão difícil, mas corajosa, de pagar a saúde primeiro. O dinheiro entrou na manhã de sexta e, à noite, já estava na conta dos servidores. Aí, na mesma sexta-feira o sindicato decide declarar greve. Foi uma grande decepção para um governador que está dialogando com as categorias. O que a cidade ganha com isso? A saúde já está precária e então vira um caos. Pagamos os salários, reconhecemos as dívidas anteriores. Não tinha como fazer mais do que a gente fez. 

Esperava mais compreensão dos servidores?

Esperava e espero. Apostar no caos só piora a situação. Estamos discutindo com as categorias 13º salário de dezembro, antecipação de férias de dezembro, salário de dezembro, horas extras do ano passado… Eram recursos para terem sido deixados em caixa pela administração passada. E estamos buscando alternativas para quitar os compromissos. Agora, se não há possibilidade de fazer isso nesse momento, por que entrar em greve? Por que prejudicar a cidade? Por que penalizar a população? Tenho confiança de que as categorias terão bom senso em compreender o nível de dificuldade que herdamos.

O que o GDF está fazendo para buscar recursos? 

Temos a tentativa de antecipação de parte do Fundo Constitucional (ver texto abaixo). Junto ao Ministério da Previdência, tentamos o pagamento de uma compensação previdenciária ao qual o Distrito Federal tem direito, de cerca de R$ 600 milhões. Outra é a que tentamos no Tribunal de Justiça do DF, relativa aos precatórios. Estamos também estudando alternativas para melhorar a arrecadação. 

Podemos ter aumento de tarifas e impostos?

Estamos estudando cenários. Não é nosso objetivo aumentar a carga tributária e isso não é prioridade. Melhorar a arrecadação não indica, necessariamente, aumento de impostos. 

Os gastos com as reformas da Residência Oficial de Águas Claras, feitos no governo passado, eram necessários?

Ainda estamos avaliando o papel que a residência oficial terá. Continuo morando na minha própria casa. Mas temos um grande investimento em Águas Claras, que precisa ser bem utilizada. Qualquer que seja o uso, é importante que sejam reduzidos drasticamente os custos com pessoal e alimentação.

Quando serão indicados os administradores regionais definitivos?

Até fevereiro nós devemos anunciar. Continuamos o processo de ouvir a comunidade. Os administradores interinos estão fazendo um levantamento das regiões. Quando o processo estiver amadurecido, vamos divulgar os nomes.

Como fica a situação do novo centro administrativo?

Estamos fazendo um estudo profundo. Queremos mudar, mas em situações adequadas. Vamos fazer uma negociação justa dentro das condições legais e ocupar o centro administrativo, pois não podemos abrir mão de um investimento daqueles. O Buriti não vai ser desativado. O Centro Administrativo cabe 15 mil servidores e o GDF tem 145 mil funcionários.


Fonte: Correio Braziliense, por Matheus Teixeira e Almiro Marcos. Foto: Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press

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