quinta-feira, 19 de março de 2015

Ponto de vista: Só Dilma pode salvar Dilma

Todas as conversas no Congresso, neste momento, passam por um mesmo assunto: a crise, naturalmente


E a constatação geral, de governistas e oposicionistas, a essa altura do campeonato, é que a crise tem dono. Ou melhor, dona, a presidente da República, Dilma Rousseff.


Não que Dilma seja inteiramente culpada, ou que tenha culpa pelos escândalos que deflagraram a crise. Aí não há unanimidade. Mas está nas mãos da presidente, e somente dela, a solução.

Por exemplo: o ex-presidente Lula. Há quem tenha cobrado dele que entrasse mais fundo na busca de uma solução. Que aparecesse mais.

Bem, a crise chegou a um ponto tal que Lula ontem deu um telefonema à tarde para o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Mesmo se considerando amigo pessoal do ex-presidente, Renan não quis atender. De fato, até lá pelas 20h, não havia retornado o telefonema de Lula. Renan sabia o que o ex-presidente queria: colocar panos quentes na crise de relacionamento do Congresso (e do próprio Renan) com o governo. Mas o presidente do Senado considera que não é Lula quem pode resolver o problema. É Dilma...

Passou o dia irritado, até quando recebeu — a contragosto dessa vez — o único interlocutor do governo a quem ainda considera: o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Quando o ministro deixou seu gabinete, Renan resmungou: “Só vem tratar de ajuste, ajuste, corte de gastos.”

O próprio Lula tem dito a alguns de seus interlocutores que não entra mais fundo porque não sabe até que ponto Dilma está disposta a seguir o que ele diz. Já por duas ou três vezes sugeriu mudanças profundas no ministério e, até agora, nada: “A bola está com ela”, disse Lula a pelo menos um desses interlocutores.

A avaliação percorre todos os escalões da política e até setores da oposição, ou no meio do caminho.

É o caso, por exemplo, do deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), que disputou e perdeu por um voto a eleição para líder de seu partido na Câmara, contra o poderio do presidente da Casa, Eduardo Cunha. Lúcio é irmão do ex-deputado Geddel Vieira Lima (PMDB), que foi derrotado nas eleições para o Senado e vive às turras com o ministro e ex-governador da Bahia Jaques Wagner (PT).

“A solução da crise é fácil. É só a Dilma enxugar o ministério, abrir espaço de verdade para os partidos aliados e colocar lá gente que saiba conversar. Não entendo por que ela não fez isso até agora”, dizia Lúcio no Salão Verde da Câmara quando foi interrompido pelo oposicionista Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR):

“Sinceramente. Esse negócio de impeachment não interessa a ninguém. Não interessa ao país. A crise é política e se chama Dilma. E a solução também se chama Dilma. Basta ela vestir as sandálias da humildade e chamar a oposição para conversar que a crise acaba”, argumentava Hauly.

Quando provocado com a argumentação de que o alto tucanato já havia acenado que não quer conversa, Hauly retrucou: “Isso é jogo de cena do PSDB. Como que a gente vai se recusar a conversar se ela chamar publicamente? Ia parecer que queremos ver mesmo o país pegar fogo.”

É. Pode ser. Pode não ser também. Mas uma coisa é certa: de todos os protagonistas da crise, a presidente da República, até pela força do cargo, é quem realmente tem condições de ainda se mexer. Se quiser salvar a própria pele.


Fonte: Por Tales Faria, portal iG. Foto: José Cruz/Agência Brasil -

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