segunda-feira, 15 de junho de 2015

Cidade Estrutural: Na capital da Esperança a miséria é esquecida pelos políticos dos palácios

É a realidade, um retrato colorido de carne e osso, do abandono e da falta de políticas públicas em favor das pessoas que vivem na miséria


A cidade Estrutural é a segunda maior favela do Distrito Federal, que experimenta as consequências da péssima distribuição de renda e a falta de políticas públicas eficientes para melhoria das condições de vida das pessoas que ali habitam. Foi ocupada inicialmente por imigrantes que buscavam no lixo uma fonte de renda, os quais se estabeleceram no chamado “Lixão”, com moradias precárias. Os primeiros moradores fixaram-se ali há trinta anos. Foi dividida em duas áreas; Vila Velha e Vila Nova, que se distinguem devido às diferenças de perfil socioeconômico... Na Vila Velha, localizada próximo ao aterro sanitário, a população é mais pobre formada principalmente pelos catadores de lixo, os primeiros a ocuparem a área. E a Vila Nova, às margens da DF-095, com mais casas de alvenaria e um comércio que tem de tudo um pouco.


A falta de políticas públicas é notória na cidade estrutural, sendo que a violência, fomentada pelo tráfico de drogas, é uma realidade indissociável do cotidiano das pessoas que residem na região. No dia 08 de maio de 2015, um jovem de 27 anos de idade, em plena luz do dia, por volta de 11:30Hs, foi atingido por diversos disparos de arma de fogo. Mais um, dentre os inúmeros crimes que acontecem PUBLICAMENTE na região.

No dia 04 de maio, por volta das 18:00Hs, um outro homicídio já havia ocorrido na Avenida 09 de Julho, na quadra de esportes, ao lado do centro de múltiplas funções. Também fora atingido por diversos disparos de arma de fogo.

No dia 06 de junho, um usuário de drogas invadiu o Centro Fundamental I, por volta das 16 Horas. Uma professora teve fratura grave em uma das pernas, um estudante teve lesões leves no pulso, o vigilante ferido e outros 13 alunos sofreram lesões leves.

Em 11 de junho, por volta das 21:00Hs, um homem, dentro de um carro com placa de Goiânia (NHC 2010) foi atingido por vários tiros e morreu no local. Outras duas pessoas foram atingidas, vítimas de bala perdida. Uma foi atingida no dedo do pé e a outra pessoa no tórax.

Recentemente, um jovem, de 17 anos, foi assassinado com vários tiros de pistola. A vítima, envolvido com a criminalidade, teria participado de um homicídio de um homem e de outro adolescente no dia anterior. O crime ocorreu no Setor de Oficinas, na Quadra 01, em frente ao lote 08 da Estrutural. O crime aconteceu às 13:20Hs, de uma quarta-feira, na presença de vários moradores.


Se voltarmos mais um pouco no tempo, lembraremos que no dia 25 de agosto de 2014, dia do soldado, uma mulher foi assaltada dentro de um famoso restaurante da cidade estrutural. Três ônibus da empresa São José foram roubados no mesmo horário. As vítimas nem conseguiram registrar os Boletins de Ocorrência de imediato, porque as portas da Polícia Civil estavam fechadas para o almoço. Os policiais temem, apurou-se à época, diminuir o já reduzido efetivo e serem vítimas de violência, temem que a própria polícia seja assaltada.

O SAMU, segundo, com a condição de anonimato, dizem os servidores, não entra na Cidade Estrutural durante o período noturno, salvo se receberem autorização dos bandidos. A Polícia Militar, com medo da violência, se recusa a dar apoio ao SAMU, dizem os socorristas do Serviço Médico de Atendimento de Urgência.


O governador Rodrigo Rollemberg sabe da triste realidade da Estrutural, tanto que, recentemente, esteve visitando o Centro de Capacitação Profissional da Estrutural. Embora conheça a realidade, até agora nada fez para mudar o destino de tantos jovens que são assassinados e consumidos pelo uso de droga. Jovens que, dominados pelo tráfico, saem para assaltar, matar e traficar no resto do Distrito Federal. Muitas das barbaridades que temos visto no Distrito Federal se deve ao fato de que favelas, como é o caso da Estrutural, foram abandonadas pelo Poder Público. Rodrigo Rollemberg, mas do que visitar a Estrutural, precisa garantir a segurança pública e a presença do Estado no local. Pergunta-se: Quais órgãos públicos estão presentes na Estrutural? O espaço ocupado pelos bandidos é o espaço não ocupado pelo Estado.

Não é mais possível admitir que na Capital da República, outrora conhecida como Capital da Esperança, as pessoas tenham que conviver com o lixo à céu aberto, que crianças sejam estupradas como retaliação pelo não pagamento de dívidas do tráfico. Não é mais possível que o Estado permita a livre circulação de armas em poder dos bandidos, atemorizando as pessoas de bem, que lutam para sobreviver.

A consequência de tanta omissão estatal, do crescimento do poder dos traficantes e dos bandidos é que cada dia eles se sentem mais livres. A consequência é que por causa de uma dívida de tráfico de drogas, uma menina, de 11 anos, tenha sido estuprada e espancada por traficantes. A consequência da omissão do Estado é que a pobre menina, vítima que voltará a ser esquecida pelo Estado em poucos dias, está desfigurada. Teve o rosto arrebentado por tentar resistir ao poderio do tráfico, poderio que nem mesmo o Distrito Federal parece ousar enfrentar.

Até quando, Governador Rodrigo Rollemberg? Até quando, senhores Deputados Distritais? Até quando, senhor Secretário de Segurança? Até quando, senhor Defensor Público Geral? Até quando, senhor Procurador Geral de Justiça e senhores Promotores de Justiça? Até quando, senhores Desembargadores e Juízes? Até quando, senhores responsáveis pelos Direitos Humanos? Até quando, sociedade brasiliense? Até quando, imprensa amordaçada?

Até quando toleraremos que o crime vença as pessoas de bem, que os honestos paguem com a vida e com a virgindade pela omissão de todos?


Fonte: Os Invisíveis da Cidade Estrutural

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