Esta
região poderia ser exemplo para todo o DF, se tivéssemos tomado a atitude de
cuidar dela, no momento certo...
(*) Por Geraldo Oliveira: do Blog Vicente Pires Alerta
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ano, sai ano e tudo volta à mesmice: buracos, alagamentos, afronta ao direito
de ir e vir das pessoas, crescimento vertical, esgoto escorrendo a céu aberto
pelas vias públicas, derrubadas de imóveis... Vicente Pires realmente surgiu de
trás pra frente, mas será que um dia poderá retomar seu rumo?
Incrustrada
em local privilegiado e com riqueza natural exuberante no passado, nossa cidade
tinha tudo para ser um lugar de qualidade de vida invejável no Distrito
Federal, se acaso seu projeto inicial tivesse vingado. Para os que não sabem, esta
região fora um dia pensada como expansão urbana de Águas Claras, em que havia até
projeto urbanístico pronto, pago pelos cofres públicos.
Mas,
quis o destino que tais projetos fossem arquivados, pois toda esta área já
havia sido dividida em chácaras pela antiga Fundação Zoobotânica, com o
objetivo de aquecer o mercado hortifrutigranjeiro do Distrito Federal.
Inicialmente havia por aqui cerca de 300 chácaras, todas com vocação realmente
rural e o programa para abastecer a mesa do cidadão brasiliense seguia a todo
vapor, com boa produção, desde hortifrutigranjeiros até queijos e vinhos.
O
aspecto ambiental foi outro motivo pelo qual não se aprovou a expansão planejada,
pois nesta parte da chamada “Fazenda Brejo ou Torto” a natureza pulsava com
abundância de minas d’água e intensa vida silvestre. Por causa do nosso rico
lençol freático e córregos preservados, temia-se que houvesse um desequilíbrio ambiental
que pudesse prejudicar as gerações futuras.
Os
gestores públicos e ambientalistas da época (década de 80 e 90), não imaginavam
o que viria a seguir. Com a carência de programas habitacionais para a classe
média e o crescimento de ocupações em terras públicas, toda a utopia ambiental
ruiu. Os chacareiros não aguentaram a pressão dos grileiros, as chácaras foram
parceladas e, nessa nova realidade, a decisão de não se aplicar o projeto
urbanístico anterior configurou-se um erro crasso.
O que
se tem hoje daquele cenário verde de outrora são aproximadamente 60 chácaras
remanescentes, importantíssimas sob o aspecto de consolidação de áreas livres
para a cidade, mas que estão seriamente ameaçadas de sumirem do mapa. Tudo que
se temia em termos de danos a um ecossistema preservado acabou ocorrendo e,
hoje, não somos nem região agrícola, nem cidade criada dentro dos parâmetros
urbanísticos.
Vivemos
em um lugar em que especulação imobiliária impera e onde o esgoto vaza da obra
pública da CAESB para as vias, ao invés de ir para uma estação de tratamento. Alagamentos
e buracos fazem parte de nosso cotidiano. Também falta água para muitos imóveis
ribeirinhos, em que os ocupantes consomem água contaminada de poços, sob o
risco de contraírem doenças. De fato, se não acordarmos para cuidar desta
cidade, poderá ser tarde.
Perdemos
o bonde da ação proativa. Nossa população não soube reagir no momento certo
para mudar essa história; não demos o grito de BASTA quando foi necessário.
Poderíamos, por exemplo, ter cumprido o TAC (Termo de Ajustamento de Conduta)
de 2007, que enumerou uma série de ações que evitariam muitos dos graves
problemas atuais. Esse TAC estabeleceu a perspectiva de organizar a região, mas
suas premissas foram esquecidas, em favor de interesses daqueles que lucram com
a ilegalidade.
O
processo lento da regularização de Vicente Pires é outro vilão que nos empurrou
para o caos. Historicamente, faltaram as chamadas licenças ambientais para essa
ou aquela obra, que aliás sempre foram a desculpa preferida dos chamados
“gestores” públicos. O projeto urbanístico e o EIA-RIMA repousaram e ainda repousam
friamente em alguma gaveta da burocracia. Já o projeto de águas pluviais é tão
antigo (2005), que hoje é impossível executá-lo na forma original.
Ainda
temos uma perspectiva de futuro, representada pelas tão aguardadas obras de
águas pluviais, pontes e viadutos. A última informação oficial que se tem dessa
licitação data do dia 13 de maio último, em que o Diário Oficial do DF publicou
a escolha de 11 empresas. Essa obra, se realmente vier a acontecer representará
uma espécie de libertação para nós, já que nunca experimentamos uma obra
estruturante.
Há
rumores, entretanto, de que o Orçamento Geral da União para 2015 contingenciará
recursos de obras do PAC II – Programa de Aceleração do Crescimento por todo o
país, onde infelizmente se inserem os valores previstos dos 500 milhões.
Esperamos que o governador Rodrigo Rollemberg não titubeie e vá articular
fortemente na área federal, para garantir que não soframos cortes.
Por fim
eu não poderia deixar de falar sobre o recente aniversário da RA XXX, ocorrido
no último dia 26 de maio. Ano passado fiz um texto especial sobre essa data,
cujo título foi: “5º Aniversário de Vicente Pires, será que devemos comemorar?”.
Naquela oportunidade, fiz uma retrospectiva do ano anterior e o relato das
seguidas frustrações. Neste ano de 2015, optei por não fazer outro; vou
aguardar 2016 para, quem sabe, destacar algo bom.
De
fato, precisamos de algo palpável para voltarmos a acreditar. Para a chama da
esperança reacender para o vicentepirense, promessas e projetos precisam sair
do papel.
(*) Geraldo Oliveira é servidor concursado da
Câmara Legislativa e mora em Vicente Pires há 13 anos. Atualmente é Diretor de
comunicação da Amovipe e Vice-presidente eleito da UNAVIP – União das
Associações e Lideranças Representativas de Vicente Pires.
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