quarta-feira, 3 de agosto de 2016

COM PRESSÃO CORPORATIVA, VAI - Distritais não vão facilitar para o governo

A negociação não é política, é fisiológica

A volta da Câmara Legislativa ao trabalho, depois do segundo longo recesso do ano, reacende o clima de confronto entre o Legislativo e o Executivo. Os prenúncios são de dificuldades para o governo, que precisa aprovar medidas que não são do agrado, aparentemente, da maioria dos deputados.


Algumas, na verdade, até são. O problema é que, para alguns dos distritais, o mais importante é desgastar o governo, dificultando suas ações. ...

Não interessa o conteúdo, mas o resultado político. 

A negociação não é política, é fisiológica

A Câmara é majoritariamente conservadora e de centro-direita. Tanto pela composição partidária como pelo perfil político e pessoal da maioria dos distritais. O governo não tem clareza ideológica e isso se reflete em seu cotidiano. O PSB do governador Rodrigo Rollemberg não tem mais unidade ideológica e está distante da esquerda. O vice-governador é do PSD, de centro-direita. E há quem seja de esquerda no secretariado e outros postos importantes.

Nada impediria, a rigor, um entendimento político entre a Câmara e o governo. Na base de apoio parlamentar ao governo há distritais de posições extremamente conservadoras, como Júlio Cesar, Rodrigo Delmasso e Sandra Faraj.

O que impede o acordo é que a conversa entre os dois poderes não é com base em posições políticas ou ideológicas que fundamentem ações de governo. É na base do toma lá dá cá.

A vida do distrital é mais tranquila

O governador precisa de metade mais um dos votos dos eleitores para se reeleger. Um senador pode se eleger com um terço do eleitorado. Já um distrital pode manter sua cadeira com 15 mil votos.

Assim, o governador precisa estar sintonizado com a maioria da população. Ao distrital basta ter o apoio de um grupo social, corporativo, comunitário ou religioso.

Um tem de agradar a muita gente. Outro, a um pequeno segmento da população.

Isso é parte da explicação para a diferença de atitudes entre o Executivo e o Legislativo.

É mais fácil ser e continuar sendo deputado do que ser e continuar sendo governador.

Parlamentares só têm de parlar

Outra diferença é que o governador tem responsabilidades que os parlamentares não têm. É fácil para os distritais, por exemplo, brigarem para que um setor do funcionalismo receba aumento ou tenha suas reivindicações atendidas. Não são eles que terão de pagar.

É fácil também rejeitar medidas que aumentem a receita do Estado e aprovar projetos que aumentam as despesas. O governo tem de fazer, aos parlamentares basta falar — parlare, está no nome.

Vai que dá certo, e aí?

O governador Rollemberg que implantar as organizações sociais na saúde. Setores de esquerda são contra por identificarem as OSs com privatização ou terceirização. Sindicatos são contra porque temem o sistema que as OSs usam para contratar. Mas e os distritais que não são nem de esquerda nem representam sindicatos da área de saúde, por que têm se manifestado contra? Simples: porque não interessa a eles correr o risco de as OSs darem certo. Estão, muitos deles, já engajados em projetos políticos que contam com o desgaste de Rollemberg para reassumirem o poder local.

Com pressão corporativa, vai

O mesmo raciocínio pode ser aplicado nos projetos de que o governo precisa para, literalmente, fazer caixa para pagar salários e os reajustes concedidos no governo de Agnelo Queiroz.

À maioria dos distritais não interessa facilitar as coisas para Rollemberg. Mas,

nesse caso, há uma diferença — a forte pressão dos servidores para que a Câmara dê ao governo condições de pagar seus salários e aumentos.

Nesse caso, o governo tem mais chances de conseguir o que quer. Mas, sem ilusões: terrenos e ativos não são vendidos de uma hora para outra e o pagamento não é à vista.

À espera de bons negócios

Em outros projetos de interesse do governo a dinâmica é outra. Na história de Brasília, discussão de projetos que influem na ordem urbana sempre foram excelentes oportunidades de negócios para os que apresentam as propostas e para os que vão votá-las.

Daí a ansiedade com que alguns distritais aguardam o PPCUB e a LUOS. E o cuidado que o governo tem de ter com o que propõe.

A definição que faz falta

Diante de todo esse quadro aparentemente negativo para o governo, há uma questão que o governador e sua equipe política não conseguem responder desde o início da gestão: afinal, qual é a estratégia que rege as relações entre o Executivo e o Legislativo?

Quem sabe a resposta, agora, aparece.

POR HÉLIO DOYLE

Fonte: Blog do Edson Sombra

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