segunda-feira, 20 de março de 2017

FÁBIO GONDIM DIZ que não é transformando o Hospital de Base em Instituto ou OSs que irá resolver os graves problemas da saúde do DF

Em um relatório de 58 páginas, o especialista em gestão de orçamento público e ex-secretário Fábio Gondim, relata os graves problemas encontrado dentro da Secretaria de Saúde, pasta que comandou por apenas sete meses. Ele revela que a situação caótica dos hospitais do DF é um problema maturado por décadas e que enquanto o Fundo Constitucional deu conta, hoje orçado em 7.5 bilhões de reais por ano, somente para a saúde, a “turma” fez o que quis
letra-só quem já passou por lá sabe o tamanho da confusão intestinal que mói por dentro, como um saco sem fundo, o Sistema de Saúde do Distrito Federal. Nos últimos seis anos nenhum dos seis secretários, a maioria médicos e do quadro de servidores, deram certo no comando da pasta, ficado um por ano em média.
No final do governo Agnelo foram dois, os demitidos. No governo Rollemberg, ocorreram demissões, mas também houve quem pediu para sair, por pressões nunca reveladas, como foi o caso do especialista em orçamento Fábio Gondim em carta enviada ao governador depois de sete meses à frente da Secretaria de Saúde.
“Foi o período mais difícil para se assumir uma Secretaria de Saúde diante de uma severa  crise econômica nacional,  com quedas sucessivas de arrecadação e com reflexos no Distrito Federal onde  decisões administrativas anteriores empurraram todo o equilíbrio fiscal para uma situação além do limite”, disse ele em conversa com o Radar.
No caso pontual da Saúde, segundo o ex-secretário, despesas foram assumidas sem orçamento prévio o que dificultou qualquer tentativa de planejamento orçamentário no primeiro ano de governo. Além disso, Fábio Gondim conta que ao assumir a pasta encontrou pelo caminho gigantescas dificuldades como a falta de recursos para o abastecimento completo da rede e para a manutenção de equipamentos.
Ele apontou que durante a sua gestão faltou dinheiro para pagar pessoal e que em virtude do não cumprimento de lei que concedia aumento e redução de jornada de trabalho, a partir de setembro daquele ano, houve uma greve geral que se arrastou por um mês.
“A SES sofria descrédito em relação à população, fornecedores e servidores. Quando achei que nada poderia ser mais complicado, ainda veio uma epidemia de doenças que sequer existiam no Brasil num passado próximo: Chikungunya e o Zika Vírus”, disse.
Gondim afirmou que questões estruturais antigas levaram à crise assistencial em áreas importantes como oncologia, nefrologia, hemoterapia etc. Falta de profissionais levaram a dificuldades para a realização das cirurgias eletivas, fechamento de escalas de pediatria, neonatologia, medicina intensiva, entre tantas outras.
Disse ainda que a Atenção Primária não tinha resolubilidade e os pacientes de emergência pouco graves eram forçados a procurar UPA e emergências, por mais simples que fossem seus problemas. A falta de protocolos clínicos e a inobservância dos que existiam, levavam à necessidade de aquisição de medicamentos, insumos e materiais hospitalares desnecessários. As agendas não eram abertas. Dificuldades para o funcionamento em rede em função de dificuldades de transporte sanitário adequado.
Ainda assim, com todas as dificuldades, Fábio Gondim aponta que com o apoio de uma equipe técnica bem montada logrou êxito em áreas estruturantes, cujos trabalhos foram iniciados ou mesmo finalizados em apenas sete meses quando teve que apresentar a sua renúncia. Em um relatório de 58 páginas enviada ao governador e ao atual secretário de Saúde, Gondim destaca os problemas e soluções alcançadas. (Veja o relatório no final desta matéria)
O ex-secretário não quis revelar ao Radar os reais motivos que o levaram a pedir para deixar o cargo, mas deixou claro que a situação grave que envolve, há décadas, a Secretaria de Saúde vai muito além da tentativa de transformar o Hospital de Base em um “Instituto” ou entregar toda a rede para ser administrada por uma OSs.
“Quem é que controla 34 mil pessoas em uma situação como esta? Se não tiver conhecimento de gestão e cuidar da situação no atacado já era, não tem jeito. Não há como implantar um modelo como querem fazer no Hospital de Base e achar de que, de uma hora para outra, tudo será uma maravilha. Tenho a impressão de que essa expectativa que está sendo vendida a sociedade pode não dar certo”, disse.

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