sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Mão de obra estrangeira no Brasil

Isso é bom ou ruim?

Estrangeiros são bem-vindos. Mas, cuidado: esta política esconde um fantasma que muitos países hoje tentam afugentar a todo custo


Até quando nós brasileiros iremos aceitar ideias, propostas e soluções paliativas, que de alguma forma, com o tempo, se tornam regra geral? O governo brasileiro está a todo vapor para aprovar e colocar em prática a facilidade de entrada de estrangeiros qualificados para suprir a demanda de mão de obra técnica e altamente qualificada. Particularmente, não sou contra, mas tenho acompanhado casos em vários continentes onde esta prática no fim se tornou um grande problema de emprego para o cidadão nativo, e principalmente no desenvolvimento e compartilhamento de novos conhecimentos. ...

O Brasil não consegue resolver com velocidade, e principalmente com qualidade, a formação de quadros estratégicos e altamente capacitados para atuarem nas diversas demandas atuais, como o Pré-Sal, a inovação, a indústria aeronáutica, a indústria naval e outros polos do saber.

O governo insiste em programas paliativos, e não ataca o problema de forma direta, seja com programas fortes de formação e qualificação técnica, com formação de docentes qualificados, com investimentos em pesquisas científicas e polos de desenvolvimento tecnológico. Por exemplo, boa parte dos pesquisadores que estão no programa Ciência sem Fronteiras quando retornarem ao Brasil não terão ambientes preparados para a continuidade de suas pesquisas. Não existe uma integração forte entre as universidades públicas e as empresas privadas, salvo alguns casos específicos. A grande maioria das universidades públicas fica à margem de um processo criativo, inovador e produtivo de desenvolvimento educacional e social. E o próprio governo e as políticas públicas de educação geram uma zona de conflitos entre universidades públicas e privadas, onde a reserva de mercado interfere diretamente na qualidade das escolas privadas, que existem em todos os rincões do Brasil, e às vezes com péssima qualidade, atendendo a um grande número de estudantes, que no fim de sua jornada de formação serão profissionais analfabetos funcionais. Na verdade, um círculo vicioso que começou no ensino básico, com professoras mal qualificadas e alunos que fogem da escola como “foge o diabo da cruz”.

Outro ponto interessante: uma das barreiras do Ciência sem Fronteiras é a língua. Boa parte dos candidatos não tem o inglês como segunda língua, e fico imaginando se dos estrangeiros será exigida a língua portuguesa como fator preponderante para sua permanência em território nacional.

Mas o ponto maior é analisar o impacto do não desenvolvimento de forma agressiva de mão de obra qualificada brasileira versus a importação de mão de obra estrangeira. Países como Angola, Índia, Colômbia, Chile, Moçambique e outros hoje sofrem por não conseguirem reverter o quadro de nacionalização da mão de obra qualificada, pois investiram na solução paliativa e não em um plano agressivo e veloz para atender a demanda crescente. Muito da mão de obra estrangeira vem de países que sofrem pesadamente com a crise econômica internacional, e o Brasil, além de ser um porto seguro econômico, se torna um paraíso tropical, do qual muitos nem pensam em voltar para os seus países de origem.

Meu alerta é: se o Brasil perder a chance de avançar com a formação de mão de obra qualificada e sistematizada para atender a demanda nacional, o país dentro de 15 anos terá um grande problema de falta de empregos para uma mão de obra mediana, além da fuga de cérebros estratégicos para o desenvolvimento tecnológico nacional. O Brasil precisa de melhores professores, de uma base educacional sólida, de menos impostos na educação, de mais polos tecnológicos, de investimentos pesados em inovação, de integração empresa/universidade, de integração universidade pública e privada, de projetos de stricto sensu com aplicações práticas, e principalmente de vontade política de resolver problemas com soluções reais e não paliativas.

Estrangeiros são bem-vindos. Mas, cuidado: esta política esconde um fantasma que muitos países hoje tentam afugentar a todo custo.
Fonte: Diário da Russia - 11/01/2013

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