segunda-feira, 15 de junho de 2015

A violência é principal motivo de afastamento de professores de salas de aula no DF

'Escola é a cidade de ninguém': Diz professor do DF sobre a violência que domina o ensino público

Tráfico de drogas toma conta de escolas no DF, paralisa atividades e obriga polícia a ficar dentro das unidades de ensino



Alunos do Centro de Ensino Fundamental 33, em Ceilândia, depredaram sala da escola e picharam frases com ameaças aos diretores. Dias depois, os profissionais de educação pediram exoneração do cargo por medo dos estudantes.

As ameaças, segundos os professores, teriam sido motivadas pelas medidas de combate ao tráfico de drogas dentro da escola. ...

Alunos do Centro de Ensino Fundamental 33, em Ceilândia, depredaram sala da escola e picharam frases com ameaças aos diretores. Dias depois, os profissionais de educação pediram exoneração do cargo por medo dos estudantes. As ameaças, segundos os professores, teriam sido motivadas pelas medidas de combate ao tráfico de drogas dentro da escola Sandro Guidalli/R7

“A escola é cidade de ninguém”. Esta é a conclusão de um professor da Secretaria de Educação do Distrito Federal, que trabalha há 10 anos e atualmente leciona em uma unidade de ensino pública de Samambaia, região administrativa do DF a 25 km de Brasília. Os casos de violência contra professores, que vão de ameaças e constrangimentos psicológicos a agressões físicas, cada vez mais frequentes e que partem, quase sempre de adolescentes, segundo relata Polyelton Oliveira.

A versão do profissional se parece muito com a de outra professora, que há três anos dá aulas a crianças de até 10 anos. Débora Menezes reafirma que as agressões em sala de aula são frequentes, e no caso dela, chegou a pauladas e pedradas vindas de uma criança. Ela e outros professores interferiram em uma briga de dois alunos, no horário do intervalo das aulas. Irritado, um dos envolvidos na confusão disse à professora que ela se ela não o soltasse, ia se arrepender. E foi o que aconteceu.

— Ele estava muito alterado e disse “ou você me solta ou eu te bato” e meu deu murro, pontapé, tudo o que ele viu na frente, jogou em mim pedra, pau, vários objetos.

Os dois professores concluem que a violência dentro da sala de aula é apenas um reflexo das condições de crianças e adolescentes do Distrito Federal e da falta de prevenção e amparo do poder público à escola.

— A violência começa fora da escola e o professor acaba sendo a ponta desse problema social. As salas estão lotadas, a gente não tem condição de oferecer atendimento. Nesse cenário de superlotação, alunos indisciplinados se revoltam contra o professor e ele não tem como mediar.

Os relatos dos professores são traduzidos em números quando se avalia o índice de adoecimento da categoria. Dados da Secretaria de Educação do Distrito federal mostram que entre janeiro e abril deste ano 35.269 atendimentos para a concessão de atestados médicos. O órgão reitera que, neste período, é necessário considerar que um mesmo profissional pode ter sido atendido mais de uma vez ao ano. Em todo o DF, são cerca de 30 mil professores para 670 escolas públicas.

Um levantamento da Secretaria de Saúde do DF mostra que os principais motivos de afastamentos dos professores das salas de aula são por transtornos de ansiedade, depressão e transtornos depressivos frequentes; em seguida, outras circunstâncias de saúde e recuperação de cirurgias ou tratamentos de médio e longo prazo.



A polícia encontrou diversos objetos que podem ser usados como armas em uma busca no Centro de Ensino Fundamental 33, dias após as ameaças Sandro Guidalli/ R7

Para o Sinpro – DF (Sindicatos dos Professores do Distrito Federal) o primeiro motivo tem ligação direta com as situações de tensão vividas pelos professores cotidianamente. O diretor da entidade, Washington Dourado, afirma que o grande problema é a falta de atenção à saúde da categoria.

— Não existe um plano de prevenção para a saúde do professor, um preparação para lidar com as situações que a gente se deparada. Ninguém foi preparado para ser agredido, para viver sob situação de risco, para agir como mediador de problemas que se tornaram naturais no ambiente escolar.

Dados do Sinpro-DF revelam que, além do alto número de atestados médicos da categoria, existem 4 mil professores readaptados, que davam aula, mas que precisaram mudar de cargo, geralmente administrativo, porque não têm condições médicas para voltar a lidar com dia a dia da sala de aula.

Sobre a grave situação enfrentada nas escolas do Distrito Federal, a Secretaria de Educação afirma que não tem conhecimento sobre o índice de ocorrências registradas e que sejam e violências praticadas contra os professores e contra as escolas. Sobre a relação entre violência e afastamentos, a pasta responde que não há nenhum estudo sobre a questão.

Sem prevenção ou cuidados atuais, uma pesquisa da OCDE (Organização para a Cooperação do Desenvolvimento Econômico) é um prognóstico do que está por vir. Atualmente, segundo o órgão da ONU (Organização das Nações Unidas), de cada 10 professores brasileiros, apenas um se sente valorizados pela sociedade. Como reflexo da situação, só 2% dos jovens pretendem optar por um curso de licenciatura no Ensino Superior e entre aqueles que cursam, a taxa de abandono é de 70%.


Fonte: Portal R7 DF -

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