Detran vai engrossar lista de categorias paradas. Demora no IML revolta familiares de vítimas
Jéssica Antunes
A queda de braço entre o Governo de Brasília e sindicatos que representam 32 categorias de servidores parece estar longe do fim. Os trabalhadores pedem o calendário de pagamento dos reajustes concedidos pela gestão passada, mas Rodrigo Rollemberg diz não ter recursos para honrar os compromissos. No fim de semana, o governador chegou a afirmar que fazer greve não fará o dinheiro surgir. Enquanto isso, os brasilienses sofrem com serviços limitados. E vem mais por aí: o Detran também vai parar.
Aderiram ao movimento servidores da Saúde, da Educação, do Complexo Penitenciário da Papuda, da Defensoria Pública, do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), do Hemocentro, do Instituto Brasília Ambiental (Ibram), do Instituto Médico-Legal (IML), do Instituto de Defesa do Consumidor (Procon), do Na Hora, do Serviço de Limpeza Urbana (SLU) e da Vigilância Sanitária.
Já os profissionais do Detran fizeram assembleia ontem e devem parar a partir do dia 27 não apenas pelo reajuste, mas pelo alegado sucateamento do sistema.
Ibrahim Youssef, presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Civis da Administração Direta, Autarquias, Fundações e Tribunal de Contas (Sindireta-DF), revelou que um ato unificado das categorias, na próxima quinta-feira, vai ajuizar ação pelo descumprimento da lei.
“A gente entende que o governo não pode pagar agora, mas queremos um calendário de pagamentos como garantia”, explicou.
“Falta de consideração”
Um jovem de 20 anos foi morto no último sábado, vítima de latrocínio na frente de casa, em Samambaia, mas ainda não pôde ser enterrado. A greve no IML, que iniciou na sexta-feira, tem atrasado a liberação dos corpos. Ontem, familiares e amigos de Guilherme de Jesus protestaram em frente ao Complexo da Polícia Civil.
Rodrigo da Silva, 33, primo do rapaz, demonstrou indignação. “Não tem previsão para liberarem o corpo, e a dor só aumenta. É falta de consideração e respeito”, reclamou.
Os técnicos em necropsia estão entre os trabalhadores em greve, e o IML funciona em operação-padrão. Eles são responsáveis pela busca dos corpos para que sejam levados para examinação, inclusive nos hospitais.
A cada dez cadáveres, a greve permite que apenas quatro sejam liberados. Os funcionários pedem reestruturação da carreira e carga horária semanal de 30 horas. Uma assembleia, na quinta-feira, definirá se a paralisação permanece.
Profissionais da Saúde se recusam a voltar
A Justiça determinou ilegalidade da greve dos servidores da Saúde há onze dias, mas eles permanecem de braços cruzados. Além da multa diária de R$ 300 mil, os funcionários públicos poderão responder por omissão de socorro e desobediência. Segundo a Secretaria de Saúde, a manutenção dos 30% do efetivo, prevista em lei, é descumprida.
“Não temos esse número absoluto porque a quantidade de profissionais varia nas unidades de saúde. O atendimento a urgências e emergências está mantido nas UPAs e nos hospitais, e os ambulatórios funcionam parcialmente, assim como os centros de saúde”, informou a pasta, em nota. A partir desta semana, mesmo com a greve, a carga horária de 200 servidores das UPAs passará a ser de 40 horas, mas isso “depende da manifestação do interesse pelo servidor”.
Exames, consultas e cirurgias marcadas foram canceladas. Já as farmácias dos postos de saúde estariam funcionando normalmente, segundo a Saúde. O cardiologista que o aposentado José Nonato, 77, visitaria na tarde de ontem estava no Hospital de Base, mas o paciente não conseguiu fazer os exames, marcados em meados de agosto. “Saí de casa às 4h20 para fazer um hemograma e me consultar à tarde. Não consegui o exame e fiquei para a consulta mesmo assim”, contou.
Visitas retomam em parte
Enquanto isso, em frente ao Palácio do Buriti, parentes de detentos protestavam. Eles querem ter de volta o direito de visitar os presos, assim como aconteceu nesta semana com os menores infratores. Nas sete unidades socioeducativas, os aproximadamente 1,3 mil agentes cumpriram determinação judicial, que também considerou o movimento ilegal.
Versão oficial
Igor Tokarski, futuro secretário- adjunto da Secretaria de Relações Institucionais e Sociais e Casa Civil, revelou: “Aquelas reivindicações que não tiverem impacto financeiro, podemos encaminhar, mas, enquanto a sessão legislativa de 2015 não terminar, não tem como apresentar um calendário de pagamentos”. Ele diz que isso é responsabilidade. “Não se pode fazer isso sem o levantamento de todas as receitas e despesas de 2016. Nossa intenção é não apresentar cronogramas que não se podem cumprir”. Tokarski diz contar com o “bom senso dos servidores para que os serviços ao cidadão não sejam paralisados”.
Remédio, só se chegar de madrugada
Quem depende de remédios entregues pelas Farmácias de Alto Custo enfrenta problemas que podem prejudicar diversos tratamentos. Depois de manter as portas fechadas, a unidade da Asa Sul funcionava com 30% da equipe. Somente cem senhas são distribuídas às 8h, dividindo o atendimento nos dois turnos.
Lá, os pacientes chegam ainda de madrugada para conseguir a ficha que garante o atendimento. Às 6h30, o aposentado Roberto Augusto, de 58 anos, pegou o número 97. “Quem chegou depois disso ficou sem”, afirmou. Ele recebeu um rim transplantado em 2013. “Diz o médico que não posso ficar nem um dia sem e acabou ontem (domingo). Preciso pegar hoje (ontem)”, revela.
No entanto, pacientes chegavam a toda hora tentando atendimento e saindo de mãos vazias, como o autônomo Antero Silveira, 57 anos. “Vim buscar remédio para meu filho, que tem inflamação crônica no intestino. Ele precisa para a vida toda. Ainda bem que a gente não espera acabar. Buscamos 20 dias antes para evitar esses problemas”, conta o pai.
Educação
A greve dos servidores da Educação completa hoje cinco dias, e a situação em cada escola é única. Há unidades de ensino funcionando sem alterações, de portas fechadas ou com aulas parciais. Na Escola Parque da 308 Sul, por exemplo, a direção educacional informou que poucos docentes aderiram à greve e, portanto, os alunos que comparecem ao local têm aula normalmente.
A Secretaria de Educação informou não ser possível, ainda, determinar quantas escolas estão em cada situação ou quantos alunos perdem aula com a paralisação, mas esclareceu que os professores com contrato temporário estão mantendo as turmas conforme o cronograma estabelecido pelo órgão. Não há corte de ponto, acrescentou a pasta, apenas controle de frequência.
Plano de demissão inclui 7 órgãos
O Governo de Brasília divulgou ontem diretrizes do Programa de Demissão Voluntária (PDV). O anúncio foi antecipado pela secretária de Planejamento, Leany Lemos, em entrevista ao JBr. na última sexta-feira. Trata-se de uma das medidas do Executivo para equilibrar as contas públicas.
Pelo plano, o servidor receberá até 60% da remuneração mensal bruta por cada ano de trabalho. Esse percentual vale para aquele que ganha até R$ 8 mil. Para quem tem salário de R$ 8 mil a R$ 16 mil, o percentual cai para 55%. Para o profissional que recebe até R$ 24 mil, a porcentagem será de 50%, e de 45% para quem ganha acima de R$ 24 mil.
A medida abrange servidores do Metrô, Novacap, Companhia de Planejamento (Codeplan), Sociedade de Abastecimento de Brasília (SAB), TCB, Companhia de Desenvolvimento Habitacional (Codhab) e Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater).
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília
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