Usando dinheiro público da verba indenizatória, senadores contratam
segurança particular e até bancam refeições a políticos alemães. O levantamento
realizado pela Operação Política Supervisionada (OPS), da qual sou fundador e coordenador, revela que R$ 21,8
milhões saíram dos cofres do Senado para reembolsar despesas pagas por seus
parlamentares, sem prestar contas devidamente ao contribuinte.
Apesar da obrigatoriedade legal de dar publicidade a documentos, inclusive
às notas fiscais utilizadas para esses reembolsos, a casa opta por arquivá-los,
limitando-se a fornecer apenas parte das informações. A prática contraria a Lei
de Acesso à Informação (Nº 12.527/2011), que tem como slogan “O acesso é a regra, o sigilo, a exceção”.
De acordo com a lei, “todas as informações produzidas ou custodiadas
pelo poder público são públicas e, portanto, acessíveis a todos os cidadãos,
ressalvadas as hipóteses de sigilo legalmente estabelecidas”.
Contudo, pelo portal de transparência, o Senado disponibiliza de forma
confusa e sem maiores detalhamentos, a relação dos gastos efetuados com a verba
indenizatória, sem permitir, no entanto, que cidadãos tenham acesso a cópia
desses documentos.
Questionado, o Senado informa que obedece ao parecer da Advocacia do
Senado Federal, de que “o rol de informações de interesse público
disponibilizadas no Portal da Transparência dá eficácia ao dever legal de
transparência”.
Os destaques de 2016
O Senador João Capiberibe (PSB-AP) foi ressarcido
em R$ 496,8 mil em 2016, liderando o ranking dos gastões do Senado. Seu maior
gasto, R$ 143,3 mil, se concentrou com a locação de veículos.
A assessoria de Capiberibe disse que utiliza sua
verba, atualmente em R$ 42,855,20 mensais, para “manter um gabinete em Brasília
e um escritório em Macapá” e que, devido a distância entre as duas cidades, as
passagens aéreas contribuem fortemente para o elevado somatório.
Pagando refeição para alemães
Paulo Bauer foi quem apresentou a nota fiscal de alimentação com maior
valor no ano passado. Para recepcionar uma comitiva de parlamentares da
Alemanha, incluído nela o embaixador germânico no Brasil, Dr. Georg Witschel, o
senador enviou a conta para o Senado no valor de R$ 1.206,40.
A fatura teria sido R$ 340 maior não fosse o pagamento do próprio bolso
do senador, de uma garrafa de vinho. Despesas com bebidas alcóolicas não podem
ser reembolsadas pela verba indenizatória.
A maior fornecedora do Senado
Sediada em Brasília, a Adria Viagens e Turismo foi a empresa que mais
recebeu dinheiro da verba indenizatória em 2016 dentre todos os fornecedores de
produtos e serviços, R$ 1,43 milhão. O valor gasto exclusivamente com emissão
de passagens aéreas é maior que a soma do que receberam do mesmo recurso e
período, Latam e Gol, juntas.
Zenalva Almeida de Sousa, uma das sócias, disse que
a preferência dos senadores por sua empresa se dá pelos serviços prestados 24h,
mas ressalva que parlamentares não são seus maiores clientes.
Segurança pessoal não tem preço (Sqn)
A segurança pessoal tem sido uma constante na vida do Senador Collor.
Apesar de poder usufruir do serviço de quatro seguranças pagos pelo governo,
graças à sua condição de ex-presidente, o senador Collor não abre mão de sua
segurança pessoal.
Em 2016, Fernando Collor (PTC-AL) destinou R$ 314,4 mil à empresa Citel
Service, sediada em Brasília, para sua segurança, o que representou 64% de todo
o montante pago em 2016 pelo Senado para empresas que prestam esse tipo de
serviço.
A assessoria do senador preferiu não dar informações sobre esta despesa
alegando que poderia “colocar em risco” a segurança pessoal de Collor.
Custo zero
Na contramão desta farra financeira,
apenas os senadores Eunício Oliveira (PMDB-CE), atual presidente
do Senado, e
Reguffe (Sem partido–DF) não utilizaram recursos da verba indenizatória.
Reguffe, mesmo nos tempos de deputado distrital, sempre abriu mão do
dinheiro desta verba. Segundo ele, “em muitos casos há sobreposição de gastos
no Senado”, e explicou: “No Senado há consultores qualificados e concursados
para dar assessoria aos senadores. Não precisa da verba indenizatória para
contratar consultoria”. E finaliza dizendo: “A verba indenizatória não deveria existir”.
O Senador Reguffe é o autor do Projeto de Resolução do Senado (PRS)
Nº47/2015 que prevê a extinção da verba indenizatória, fato que geraria uma
economia aos cofres públicos na ordem de R$ 116 milhões ao final de oito anos.
O projeto aguarda relatoria na CCJ desde outubro de 2015.
A Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar dos Senadores – CEAPS –
garante uma verba mensal aos senadores, que varia de R$ 21mil a R$ 44 mil para
que possam bancar despesas exclusivas às atividades como parlamentar, e para
isso precisam apenas apresentar ao Senado as notas fiscais das despesas e
assinar um termo de responsabilidade. O pagamento é efetuado via depósito em
conta.
Despesas pagas com dinheiro da verba
indenizatória entre janeiro e dezembro de 2016
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