Em um relatório de 58 páginas, o especialista em gestão de orçamento público e ex-secretário Fábio Gondim, relata os graves problemas encontrado dentro da Secretaria de Saúde, pasta que comandou por apenas sete meses. Ele revela que a situação caótica dos hospitais do DF é um problema maturado por décadas e que enquanto o Fundo Constitucional deu conta, hoje orçado em 7.5 bilhões de reais por ano, somente para a saúde, a “turma” fez o que quis
No final do governo Agnelo foram dois, os demitidos. No governo Rollemberg, ocorreram demissões, mas também houve quem pediu para sair, por pressões nunca reveladas, como foi o caso do especialista em orçamento Fábio Gondim em carta enviada ao governador depois de sete meses à frente da Secretaria de Saúde.
“Foi o período mais difícil para se assumir uma Secretaria de Saúde diante de uma severa crise econômica nacional, com quedas sucessivas de arrecadação e com reflexos no Distrito Federal onde decisões administrativas anteriores empurraram todo o equilíbrio fiscal para uma situação além do limite”, disse ele em conversa com o Radar.
No caso pontual da Saúde, segundo o ex-secretário, despesas foram assumidas sem orçamento prévio o que dificultou qualquer tentativa de planejamento orçamentário no primeiro ano de governo. Além disso, Fábio Gondim conta que ao assumir a pasta encontrou pelo caminho gigantescas dificuldades como a falta de recursos para o abastecimento completo da rede e para a manutenção de equipamentos.
Ele apontou que durante a sua gestão faltou dinheiro para pagar pessoal e que em virtude do não cumprimento de lei que concedia aumento e redução de jornada de trabalho, a partir de setembro daquele ano, houve uma greve geral que se arrastou por um mês.
“A SES sofria descrédito em relação à população, fornecedores e servidores. Quando achei que nada poderia ser mais complicado, ainda veio uma epidemia de doenças que sequer existiam no Brasil num passado próximo: Chikungunya e o Zika Vírus”, disse.
Gondim afirmou que questões estruturais antigas levaram à crise assistencial em áreas importantes como oncologia, nefrologia, hemoterapia etc. Falta de profissionais levaram a dificuldades para a realização das cirurgias eletivas, fechamento de escalas de pediatria, neonatologia, medicina intensiva, entre tantas outras.
Disse ainda que a Atenção Primária não tinha resolubilidade e os pacientes de emergência pouco graves eram forçados a procurar UPA e emergências, por mais simples que fossem seus problemas. A falta de protocolos clínicos e a inobservância dos que existiam, levavam à necessidade de aquisição de medicamentos, insumos e materiais hospitalares desnecessários. As agendas não eram abertas. Dificuldades para o funcionamento em rede em função de dificuldades de transporte sanitário adequado.
Ainda assim, com todas as dificuldades, Fábio Gondim aponta que com o apoio de uma equipe técnica bem montada logrou êxito em áreas estruturantes, cujos trabalhos foram iniciados ou mesmo finalizados em apenas sete meses quando teve que apresentar a sua renúncia. Em um relatório de 58 páginas enviada ao governador e ao atual secretário de Saúde, Gondim destaca os problemas e soluções alcançadas. (Veja o relatório no final desta matéria)
O ex-secretário não quis revelar ao Radar os reais motivos que o levaram a pedir para deixar o cargo, mas deixou claro que a situação grave que envolve, há décadas, a Secretaria de Saúde vai muito além da tentativa de transformar o Hospital de Base em um “Instituto” ou entregar toda a rede para ser administrada por uma OSs.
“Quem é que controla 34 mil pessoas em uma situação como esta? Se não tiver conhecimento de gestão e cuidar da situação no atacado já era, não tem jeito. Não há como implantar um modelo como querem fazer no Hospital de Base e achar de que, de uma hora para outra, tudo será uma maravilha. Tenho a impressão de que essa expectativa que está sendo vendida a sociedade pode não dar certo”, disse.

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