“Famílias são grupos que se juntam e formam uma dinâmica”
A coisa funciona mais ou menos assim: se você fracassa, é esquecido; se faz muito sucesso, é obrigado a se tornar a grande teta que vai amamentar a todos. Senão, passa a ser chamado de todos aqueles nomes horrorosos que recebem os que têm e não dão: “egoísta” e “insensível que só pensa em si mesmo” são só o começo. A revolta fica grande e a lista também.
Quando você faz sucesso, a conquista pertence a todos os que têm o seu sangue. O bem-sucedido tem de cuidar dos pobres coitados e desafortunados que, embora tendo nascido nas mesmas condições, não tiveram a “sorte” de “chegar lá”.
Aí vira “urubu na carniça”: aquele bando desordenado e ansioso tentando pegar o pedaço melhor.
Por outro lado, tem as famílias “pau pra toda obra”, que são as que se unem para tudo e para todos. Tem as “unidas na doença”, juntas só nas adversidades, nunca na diversão e na alegria. Há as “boas unidas, mas não reunidas”, que são as das “baixarias natalinas” – as que se encontram para brigar, como dizia um amigo.
Existem as “famílias fiscais”, que revistam as vidas uns dos outros, disfarçadamente, olhando a geladeira, prestando atenção às roupas novas ou se alguém trocou o carro. Se melhorou, aí então é raiva incontrolável. Inveja disfarçada em interesse.
Cada família é mais ou menos dominada por certas características que falam mais forte, e é assim que é mesmo. Há aquelas em que o filho que não ganhar dinheiro, coitado! Porque esse é o valor comum. E outras em que pobrezinho do que não for “estudado”: é “burro e preguiçoso”. Isso gera o famoso patinho feio, aquele que é notadamente diferente do grupo.
Famílias são grupos que se juntam e formam uma dinâmica. São muitas, mas os tipos se repetem com muita frequência e dá para classificá-las. Acabei de dar uma pequena lista. Mas acredite: todas têm o seu lado bom, apesar de nesse momento eu estar falando das “carniceiras”.
As do tipo “urubus na carniça” são aquelas em que, por exemplo, uma tia solteirona com um ótimo emprego tem de pagar a faculdade de todos os sobrinhos cujos pais “não podem”. Claro que os porquês das eternas dificuldades dos pais não podem ser questionados, mesmo que sejam dívidas de jogo ou outra descompensação qualquer. Os coitados não dão conta, ora essa. E a titia não tem ninguém para cuidar mesmo, não tem nem um passarinho para dar água.
O afortunado parente – ainda que não seja o solteiro sem obrigações, ainda que seja casado ou casada, com múltiplas despesas, mas sendo o que possui – vai parecer um pecador se não carregar alguns nas costas. Fica muito malvisto e malfalado na família.
Muitas vezes a “carniça” na qual os urubus estão em cima são os próprios pais, ou um deles. Os velhos ricos, ou com boa aposentadoria (às vezes nem tão boa), são conclamados a “ajudarem” eternamente os “filhos-problema”. Paga uma coisinha aqui, troca o carro ali, compra uma viagem de férias... porque, coitadinho do fracassado, ou daquele que está estudando (há longos anos), se preparando para melhores dias, ele também merece se divertir. Nada de pagar só remédio ou escola, vida boa também deve fazer parte do pacote.
Se as coisas funcionam bem assim, por que mudar, não é mesmo? Qual é a sua posição?
Se você é dos que confirmam os valores do grupo, faz tudo conforme o figurino e está feliz, bom para você. Se você é dos que obedecem aos hábitos familiares só para não ser rejeitado e não tenta abrir os horizontes, pior para você.
Se você é o urubu, repense. Melhor seria ter fontes próprias de sustento porque um dia a casa cai e a fonte seca.
Se você é a carniça... meu amigo, pegue sua viola e vá cantar em outra freguesia, ou mude de posição. Você lutou e é um vencedor para usufruir e não para ser usufruído.
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