Você sabe por que vivenciamos um crescente individualismo? Valores morais
só podem existir com o alicerce religioso. Portanto, a queda da religiosidade
atual explica, em parte, o predomínio do pensar só em si mesmo.
Você
já reparou como as pessoas se importam cada vez menos com os problemas dos
outros? Pior, mal olham para quem está ao seu lado? A passividade atual da
maioria das pessoas, mesmo diante de situações chocantes, ocorre por uma padronização
do individualismo radical e extremista, no qual o outro é visto como alguém a
ser usado ou deixado de lado, dependendo da capacidade que esse outro tem de
satisfazer às nossas necessidades pessoais.
Se olharmos as ruas de Vicente Pires hoje,
muitas quase prontas com a pavimentação nova e tão esperada por todos, vemos o crescente
individualismo, que começa com nossos gestores, fazendo vistas grossas, sendo
coniventes e até construindo para que alguns comerciantes e moradores se
apropriem do que é público, como exemplo citamos as calçadas, que são
necessidade do coletivo.
As
ruas estão sendo renovadas, mas as calçadas estão piores do que as antigas, que
não atendiam a ninguém em termos de acessibilidade e agora continuarão sem
atender, pois, aqueles comerciantes e moradores que não têm preocupação com o
outro, preocupam-se apenas com seus umbigos, pois seu comportamento suplanta o
direito alheio. No caso, o outro pode ser seu próprio cliente ou vizinho,
portador de necessidade especial ou aquele que apenas deseja fazer uma
caminhada, de forma segura.
Mas, felizmente, há o outro lado da moeda, não
se pretende aqui de generalizar comportamentos. O que leva algumas pessoas a
ajudarem e quebrarem este paradigma da cultura do umbigo é a capacidade
diferenciada de se relacionar com o outro, de postar-se no lugar do semelhante,
saindo do alienamento individualista que beira ao “autismo” e contribuindo
sempre para que todos tenham seus direitos respeitados. Na verdade, tal
comportamento molda-se em valores de berço e no conceito de cidadania.
É
preciso descobrir a verdade sobre nós mesmos e sairmos da alienação
individualista que a sociedade tenta nos imputar nos dias atuais. Só aquele que
consegue saber sua verdade, pode despojar-se de si mesmo para olhar e ajudar o
outro. A história mostra que as pessoas mais humanitárias que existiram foram
aquelas que sabiam sobre os seus desejos, que sabiam quem eram e que não se
perdiam dentro de um labirinto interno, egoísta e autocentrado.
Fazendo
uma analogia à vida real, mas controversa, o cidadão vai até a Igreja e lá se
ajoelha para rezar ou orar. Semblante calmo, diria até sonhador. Naquele
ambiente ele se sente purificado. A paz ganha o seu coração. Seu olhar
complacente convence até o mais desconfiado dos homens. Ele repete as lindas
palavras que vem do altar. Ouve com respeito e orgulho o sermão do padre ou
pastor. Olha para os seus, com benevolência. Sente o espírito leve. Emociona-se
com a irmandade. Tem vontade de multiplicar o amor que sente no peito. Exala
bondade. Sente-se caridoso. Pensa no quanto é importante ser humilde e não um
aproveitador que só pensa em si. Acha-se um samaritano nato. Olha para a imagem
de Jesus na cruz e pensa no profundo amor de Deus.
Aí, esse
mesmíssimo “santo homem” já não se encontra na casa do Senhor. Ele agora está
em sua casa ou em seu comércio, sente-se todo poderoso, comporta-se de forma
questionável invadindo o que é público como calçadas, estacionamento e até a
rua, tudo para garantir para si, aquilo que deveria ser de todos. Ele também
ataca, fala mal, faz fofoca, denigre e até maltrata a quem, do outro lado da
moeda, tenta defender o alheio.
Ao
contrário do convívio social da igreja, a forma social que agora ele adentra de
corpo e alma permite-lhe, pensa ele, brincar de ser Deus. Sim, aqui ele é o
senhor da razão, ele tudo pode. O poder da quase invisibilidade. Todos sabem
quem é ele, no entanto, ele acha que o poder de posar de bom homem lhe dá essa
sensação de proteção. Acha-se blindado por um comportamento e um caráter
claramente duvidoso.
Aliás,
personagem não fictício, ele está por toda parte. Pode ser seu amigo, pode
andar ao seu lado. Fazer parte do seu convívio. Você até acha ele legal, gente
boa. Tente mostrar para ele que, quando ocupa o que é público ou afronta
direitos de terceiros, peca contra a religiosidade e o despojamento de outrora.
Diga-lhe que ao prejudicar seu próximo, seu semelhante, ele conhecerá o show da
vociferação! O xingamento! O julgamento!
Então
ele clama! Ao refutar aqueles que possuem o senso da coletividade e da
preocupação cidadã, chega a gritar consigo mesmo: São todos vagabundos! Morram! Já vão tarde!
Demônios! Gente podre, suja, nojenta! Deviam queimar no inferno esses ociosos
vadios, que ficam se metendo onde não são chamados, preocupando-se com minha
rampa, meu puxadinho!
O
nosso personagem agora enche o peito, respira profundamente e sente a ira
ganhar seu corpo. Malditos, malditos! Ignorantes! Por isso esse país não anda!
Por causa dessa gente sem qualidade e intrusa! Gente feia, asquerosa e
repugnante! Ele berra e se orgulha...
E grita
mais forte agora: V A G A B U N D O S!
Infelizmente
as pessoas que têm o mesmo caráter começam a concordar com tal comportamento, as
autoridades nada fazem, os órgãos responsáveis por fiscalizar ou denunciar fazem
vistas grossas e ainda incentivam a apropriação indevida, tudo para estar bem e
garantir o voto futuro. Lamentavelmente, ao haver esta convergência de
interesses, favorece-se, de forma lamentável a plena sensação de grandeza e de
poder daqueles que insistem na maldita cultura do umbigo.
Inexoravelmente,
este é o alimento principal de um ciclo vicioso presente em cada canto deste
sofrido País. Tudo pode, pela defesa da política…do próprio umbigo!
Pai,
perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem!
Gilberto Camargos
G
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