segunda-feira, 30 de junho de 2025

Vicente Pires em Pânico: Regularização Sem Transparência Ameaça Despejar Moradores


A notícia da chegada da tão aguardada regularização das terras de Vicente Pires — especificamente no trecho 2 da terceira gleba da Fazenda Brejo ou Torto — prevista para agosto próximo, trouxe muito mais pânico do que alívio à população local.


O que poderia ser um momento de conquista para os moradores tem se transformado em um verdadeiro pesadelo. Sem qualquer transparência, sem a divulgação prévia dos valores e, principalmente, sem possibilidade de negociação, a Terracap, empresa responsável pela regularização, já demonstrou, em experiências anteriores, o modus operandi: imposição, cobrança abusiva e total desconsideração pela realidade social dos moradores.


Um Processo Sem Voz e Sem Alternativas


Os moradores de Vicente Pires já conhecem bem a postura da Terracap. Muitos acompanharam os processos de regularização nas regiões vizinhas e viram como a empresa age: unilateralmente, com pouca ou nenhuma abertura ao diálogo. Dessa vez não está sendo diferente. Circulam vídeos institucionais com mensagens ameaçadoras: “ou você entra no processo ou perderá seu lote e até sua casa já edificada”. O medo se espalhou.


A realidade de Vicente Pires é dramática. Aproximadamente 40% das famílias da região sobrevivem com renda inferior a cinco salários mínimos. São trabalhadores humildes, muitos já idosos, que construíram suas casas tijolo por tijolo ao longo de décadas — desde os tempos em que a região era matagal, área de desova e até abrigo de lixões do Distrito Federal.


Essas pessoas não possuem qualquer condição financeira para pagar os altos preços que estão sendo cogitados — seja à vista ou mesmo por financiamento. Estão literalmente sendo encurraladas.


Uma Bolha Imobiliária: A Armadilha Perfeita


Para piorar, Vicente Pires vive hoje uma bolha de valorização imobiliária. A Terracap irá cobrar pelos terrenos de acordo com os preços atuais de mercado, oferecendo apenas “descontos simbólicos de benfeitorias”. O que isso significa na prática? Mesmo que um morador se esforce, venda bens, contraia dívidas e consiga pagar pela regularização, ele verá seu imóvel, que hoje vale cerca de R$ 1 milhão, manter o mesmo valor após a escritura. Em outras palavras: a valorização será absorvida no custo de regularização, e o morador sairá no prejuízo.


O resultado? Centenas de imóveis já estão sendo colocados à venda, num desespero coletivo para tentar salvar o pouco que ainda lhes resta.


Governo Ausente e Representação Frágil


O Governador Ibaneis Rocha e a vice-governadora Celina Leão parecem ter esquecido Vicente Pires. Desde a eleição, não retornaram à cidade para ouvir os moradores. Quando o fazem, é apenas para dialogar com empresários — muitos deles, os mesmos que há décadas lucram e prejudicam a região.


O deputado que afirma representar Vicente Pires, por sua vez, tornou-se apenas mais um elo do governo. Com cargos distribuídos para seus aliados em várias administrações regionais e órgãos do GDF, sua postura é de total alinhamento com o Palácio do Buriti. Não moveu e dificilmente moverá qualquer ação efetiva em defesa dos moradores.


Para completar o cenário, a Administração Regional está hoje sob o comando de um aliado histórico da Terracap, um administrador que sempre defendeu os interesses da empresa. A associação que ele representa tem, inclusive, contratos com a própria Terracap. Na prática, são alguns empresários que ditam as regras na cidade.


Reuniões Controladas e Informação Manipulada


Para criar a sensação de que o governo está “ouvindo” a população, o administrador passou a organizar reuniões seletivas, convidando apenas moradores que aceitam as regras impostas pela Terracap. Nessas reuniões, não se oferece qualquer espaço para questionamento real ou negociação. O que se apresenta são informações genéricas, facilmente encontradas no site da empresa, e as propostas levadas por esses grupos já são velhas conhecidas: foram protocoladas há anos pela Arvips — associação historicamente ligada à Terracap.


A população, mais uma vez, está sendo conduzida sem alternativas, sem voz e sem proteção.


A Última Linha de Defesa


Diante desse cenário desolador, resta à AMOVIPE — Associação de Moradores de Vicente Pires — resistir. A entidade busca o diálogo direto com o Ministério Público e ingressa com ações judiciais para tentar proteger os direitos dos moradores e impedir mais um capítulo de injustiça social promovido sob o manto da regularização.

Enquanto isso, o desespero segue tomando conta de Vicente Pires.


Gilberto Camargos


Mais informações no 61 99217.1719



 

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