E OS CANALHAS NÃO DESISTEM. QUEREM IMPOR A SUA
"ISTÓRIA" : Ex-Procurador quer revisão da história em livros
didáticos
O ex-procurador Geral da República Cláudio Fonteles, um dos
integrantes da Comissão Nacional da Verdade, quer que seja feita revisão da
história do Brasil durante o período do governo militar, iniciado em 1964, nos
livros didáticos usados em todas as escolas militares, assim como nas
publicações usadas em escolas civis.
"Se você tem a lei que diz que o que aconteceu neste
País foi um Estado que violou gravemente os direitos da pessoa humana, e isso
está no ordenamento normativo deste País, como é que isso se concilia com você
ensinar aos jovens, aos escolares e mesmo àqueles jovens que devem fazer a
carreira militar, que o papel deles é de interferir no processo político
violentamente, torturar e matar?
Não pode. Isso é ilegal. Isso é uma afronta ao quadro
normativo", disse Fonteles, no Programa É Notícia, da Rede TV, gravado na
sexta-feira e previsto para ir ao ar às 23 horas deste domingo.
Por isso, prosseguiu o ex-chefe do Ministério Público
Federal, "há que haver realmente uma reformulação e dizer que o que
aconteceu foi um golpe, foi uma ruptura do processo democrático", afirmou.
"Temos uma Constituição para ser vivida e cumprida", disse Fonteles,
que também já coordenou a comissão. "Vamos rever todo o ensinamento de
História, stricto sensu, e de disciplinas afins."
As declarações de Fonteles revoltaram militares.
O presidente do Clube Naval, almirante Veiga Cabral, disse
que com esta posição, a Comissão da Verdade levará "distorções em relação
à história do Brasil aos colégios". O almirante queixou-se de que o grupo
está "trabalhando de forma parcial" porque "não está ouvindo os
militares".
Apesar de a legislação prever análise dos fatos de 1946 a
1988, "os trabalhos só focam nos fatos relativos a 64". "Por que
só os agentes do Estado estão sendo inquiridos", questionou. "Quando
se quer reconstituir, de fato, a verdade, é preciso ouvir os dois lados. Eles
querem impor a sua história."
Fonteles reiterou que todos os militares
"convocados" à comparecer à comissão são obrigados a dar o seu
depoimento. Falando no caso da morte de Rubens Paiva, ele foi ainda mais
incisivo:
"Se ela (a pessoa) não quiser depor, ela responde ao
crime de desobediência. E se ela não quiser ir depor, ela pode ser conduzida
coercitivamente. Não com violência, mas alguém a pegar pelo braço e a levar
lá".
Para o presidente do Clube Naval, "esta é uma forma
brutal de agir porque estamos em um estado democrático de direito e neste caso,
estão tratando de um assunto já vencido, já julgado pelo Supremo Tribunal
Federal". E emendou: "um decreto não pode mudar a Constituição. Você
não pode arrastar o cara pelo braço, ainda que delicadamente, para obrigá-lo a
depor sobre um tema vencido. Não é assim que se reconstitui a história."
Tânia Monteiro, da Agência Estado
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