terça-feira, 27 de agosto de 2013

Agnelo está a um passo da beatitude. É a hora de acertar



Quem assiste Ari Toledo no palco interpretando um dos seus muitos sucessos – no caso, As beatas - se deleita ainda mais com os gestos e a entonação da voz em falsete do artista. Abrandai o coração dos ignorantes... Abrandai, canta o showman para fazer seu público gargalhar de ir ao delírio.

A música fala da falta de sintonia. Diz de um grupo de dez beatas que resolveu homenagear uma santa com uma nova canção. Levam a ideia ao pároco da pequena cidade, que vê a iniciativa com bons olhos. E se dividem em dois grupos, em pontos distintos. Cinco se encarregam da letra. As outras cinco, da melodia.

Sem lógica. Jamais daria certo.

Sincronismo. Essa a palavra chave. Mas, ressalvando que a condição de ignorante não é pejorativa. Não no sentido de estúpido, grosseiro, sem educação ou instrução. Mas simplesmente leigo. E quando se espera beatitude, não se pode agir como beatas.

(Um parêntese. Quem leu o texto De varanda, rede e Michel, ele sim acima de tramoias, deve entender que estas linhas foram criadas na rede).

Voltando a ausência de sintonia. O alvo é o governo de Agnelo Queiroz. Não defendo aqui que o governador seja beatificado, que venha a ser santo. Porém, que as boas ações do governador sejam canonizadas no sentido de serem lembradas pela sociedade.

O ato de beatificar, quando o assunto é santificar, exige um longo processo. Mas o mostrar-se, o apresentar-se satisfatoriamente perante a quem o cerca, é rápido e fácil. Basta ter sincronismo na comunicação. Isso falta ao governo Agnelo. E pelo andar da procissão, precisa ir devagar com o andor porque o santo é de barro.

Jornalistas que trabalham com parlamentares que compõem a base aliada do Palácio do Buriti, se passam por mensageiros para advertir que a imagem de Agnelo vai de mal a pior. E lembram que o modelo de comunicação adotado pelo governador tem provocado muitos problemas. É um fracasso. Ou ele muda ou pode mesmo dar adeus a uma eventual reeleição.

Compartilho da tese de que Agnelo pecou ao dividir a Comunicação Social em duas pastas. Supostamente não teve quem dissesse a ele que o meio é a mensagem, e o ensinamento de Marshall McLuhan (o que, onde, como, quando e por quê) deve ser pregado em toda política de comunicação.

Jornalismo e publicidade, quando o assunto é imagem, devem andar de mãos dadas. Irmãos siameses. E com um pai viril, que assuma a paternidade, delegando ações sem abrir mão do poder, da palavra final.

Agnelo insistiu no erro ao manter áreas separadas. E deu um passo comprovadamente falso, ao estender a prole, gerando e tirando a fórceps uma subsecretaria paralela para um projeto ímpar. A Secopa surgiu disso. Para acomodar e premiar a título de consolação quem tentou aliviar o governo dos primeiros fardos que Agnelo mal conseguia carregar aos olhos da Imprensa.

Imprensa, Publicidade, Secopa.  Três gestores com pensamentos distintos e objetivos individualizados, trabalhando cada um a seu modo para uma ação que precisa ser caracterizada pela unidade. Pior não poderia ser.

Salvo mudanças que se façam imediatas, aproveitando o remanejamento do secretário de Publicidade Abimael Nunes, o modelo adotado pelo Novo Caminho continuará trilhando a estrada que vai contra a evolução da comunicação. É o deixa prá lá de algo que precisa de integração para render bons frutos.

Na estrutura existente no Palácio do Buriti, a Secretaria de Publicidade cuida dos recursos, das campanhas para promover atos, ações e imagem, mas sem definir a mensagem e o meio. Já a Secretaria de Comunicação Social, não pode ficar satisfeita apenas com a produção de notícias, em atender jornalistas e abastecer veículos e redes sociais no momento de gerenciar crises.

O secretário encarregado de pedir um espaço para esclarecer fatos desencontrados, para soltar um balão de ensaio, para dizer que o chefe é bom e merece mais um mandato, não pode ser politicamente fraco. Sansão faz parte da mitologia. Mas há muita Dalila real de prontidão, pronta para cortar cabelos, por curtos que sejam.

Deixada de lado a Secopa, onde as beatas não agem em sincronismo com o Palácio do Buriti, cabe a Agnelo rever a manutenção de dois gestores com pensamentos e formações distintas responsáveis pela promoção de uma mesma imagem. Se o governador insiste nisso colherá resultados desconexos, alimentará uma guerra de vaidades e afundará em níveis cada vez mais baixos de aceitação.

Integração é sinônimo de sincronismo. Há no Buriti um secretário que atende pelo nome de Ugo Braga, capaz de levar uma boa imagem do governador e do governo a todas as plagas do Distrito Federal, sem necessidade de se envolver em qualquer saga que destoe do objetivo maior.

Também há indícios de que o sangue novo de Carlos Henrique Vasconcelos será incorporado à equipe palaciana. Trata-se de um profissional ilibado, experiente, que não merece nenhum sentimento de pena. Mesmo porque, suas virtudes são imensuráveis. O fato de sempre orientar, não significa que não possa ser orientado. Há ainda no próprio Buriti, na ante-sala do Secretário de Comunicação Social, jornalistas capazes de corroborar com as ideias de Ugo Braga. E Agnelo precisa ver isso.

Não estou aqui para alertar nem muito menos advertir futuras decisões de Agnelo Queiroz para mexer na estrutura de Comunicação Social do seu governo. Mas como profissional da área, tenho convicção que se o governador optar por sincronismo, como sugerem meus colegas jornalistas, a imagem dele vai melhorar e o ato de sorrir será gostoso.

Entretanto, me permito escrever que, sem sintonia, sem um pensamento uniforme, sem uma cabeça sóbria e politicamente forte para tomar decisões acertadas; em síntese, sem alguém que sincronize toda a estratégia de comunicação, de nada adiantarão boas ações se as realizações não chegarem ao conhecimento da sociedade, seja por meio de notícias ou de propaganda.

Sem piada. Sem sincronismo, o sorriso do povo será sarcástico. E qualquer tropeço pode virar o andor e quebrar o santo de barro.

Por José Seabra
Fonte: Notibras - 26/08/2013

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