quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Presídio de Pedrinhas: Sistema carcerário do Maranhão é só a ponta do iceberg

O Brasil todo não foge à regra.

ONU cobra solução imediata. Mortes aumentam quase 500% em 13 anos. Enquanto isso a governadora quer comer lagosta fresca e tomar sorvete de vários sabores


A secretária estadual de Direitos Humanos e Assistência Social do Maranhão, Luiza de Fátima Amorim Oliveira, disse o que o Brasil sabe desde que o Estado passou a ser manchete em jornais de todo o país por conta do índice assustador de violência e atrocidade de seus criminosos: o governo errou. Governo este a cargo da família Sarney há quase meio século.

Nesta quarta-feira (8/1) as páginas das principais publicações de âmbito nacional dão destaque à capital maranhense São Luis, cujo complexo prisional de Pedrinhas registrou em 7 anos pelo menos 173 mortes de detentos. Três delas ocorridas em dezembro último demonstram um cenário assustador. Decapitação. Cabeças sendo erguidas como troféus. O Estado diz que vai averiguar a veracidade das imagens, o que nem se faz necessário visto a fonte que as repassou à imprensa, o Sindicato dos Servidores do Sistema Penitenciário do Estado do Maranhão. O vídeo estava em celulares apreendidos dos presos. ...

Os dados sobre mortes de presidiários são da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, que, inclusive, denunciou o Brasil à Organização dos Estados Americanos (OEA). A Organização das Nações Unidas (ONU) exigiu investigação imediata das mortes ocorridas no Complexo de Pedrinhas. Mas o imediato pode levar anos no Brasil burocrático com o qual se convive.

Uma das vítimas recentes, a inocente menina de 6 anos que morreu após ter praticamente todo o corpo queimado por bandidos ordenados por outros criminosos de dentro da prisão engrossou na semana passada a estatística de violência no Maranhão, que entre 2000 e 2013 viu o número de homicídios na capital e região metropolitana crescer 460% –– 807 mortes no ano passado.


As ordens vêm de dentro da prisão, tamanha a falta de estratégias que possam inibir o uso de celulares de dentro de presídios, o mínimo que se espera, ou não, já que até estupros ocorrem dentro de Pedrinhas como forma de pagar dívidas entre os presos que não querem ser assassinados pelos colegas de cela.

Enquanto a secretária estadual do governo Roseana Sarney cobra ajuda do governo federal –– e enquanto isso vai prendendo suspeitos como forma de dar uma resposta à sociedade, inclusive inocentes, como já há relatos –– a ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH), Maria do Rosário afirma que a obrigação de repor a ordem pública do Estado é do governo estadual. O Planalto, embora não negue a ajuda, também não assume que parte considerável do sistema carcerário brasileiro se deve à falta de investimento por parte da União nos Estados. A peneira está com furos grandes e sol já passa por completo.

A crise da segurança pública maranhese deve servir de alerta ao país da “#copadascopas”, para parefrasear a presidente Dilma Rousseff em tuites desta semana. O problema não é de hoje, nem de ontem, e também não é só do Maranhão. A violência tem aumentado em todo o país, e Goiás não está fora dessa estatística –– dados divulgados hoje pela pasta de Segurança Pública goiana mostram que de 2012 para 2013 houve alta no índice de homicídios na ordem de 6%, passando de 2.426 assassinatos para 2.576. Em Goiânia o aumento foi de 8%, 621 assassinatos, 65 somente em dezembro, o mês mais violento da capital goiana. O número relativo ao Estado foi comemorado pelo governo, já que de 2010 para 2011 o aumento foi de 22%.

Enquanto Roseana Sarney licita as empresas que abastecerão suas geladeiras de 80 kg de lagosta fresca, 1,5 tonelada de camarão e oito sabores de sorvete, que deverão ser entregues na residência oficial e na casa de praia da peemedebista, ao custo estimado de R$ 1 milhão/ano, o Maranhão conta com a menor relação de policiais por habitante no Brasil: 1 para cada 710 moradores. Em Brasília a proporção é de 1 para 135 pessoas, só a nível de comparação. Os dados sobre a licitação milionária das iguarias são da coluna Painel, da "Folha de São Paulo".

Enquanto isso vamos caminhando “a passos de formiga e sem vontade”. 2014 é ano eleitoral e muitos dos políticos alvos de críticas dos cidadãos serão reeleitos. Caso, certamente, da dinastia Sarney.
Fonte: Ketllyn Fernandes - Jornal Opção - 08/01/2014

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