quinta-feira, 13 de março de 2014

Oftalmologia no DF: 12 mil aguardam pela 1ª consulta

Espera pelo serviço chega a até um ano, afirma defensor público

Saúde diz que pretende contratar mais médicos e terceirizar atendimento. 

Nossa preocupação no primeiro momento é atacar aquelas situações que impossibilitam as pessoas de ter uma vida normal. À medida em que a gente conseguir solucionar essas urgências, poderemos dirigir mais atenção às outras situações" Elias Miziara, secretário-adjunto de Saúde. ...

Dados da Secretaria de Saúde apontam que 12 mil pessoas aguardam pela primeira consulta em oftalmologia no Distrito Federal. O atendimento é feito em seis hospitais regionais – Ceilândia, Gama, Guará, Paranoá, Santa Maria e Sobradinho – e estaria prejudicado pela falta de profissionais no mercado. De acordo com o defensor público Ramiro Sant'Ana, a espera pelo serviço chega a até um ano.

O secretário-adjunto da pasta, Elias Miziara, reconhece a situação. "A demanda é realmente muito elevada, mas felizmente a maioria se encaixa em situações mais simples, de indicação de óculos. Não chega a ser algo a ponto de levar à cegueira. [A falta de oftalmologistas, mesmo com contratação temporária] É um problema que escapa ao nosso controle e à nossa capacidade de resolução", afirmou.

O baixo número de médicos na área – a rede conta com 72 profissionais atualmente – também seria responsável pelas grandes filas em outras demandas oftalmológicas. Para contornar a situação, a secretaria vai realizar novo concurso e lançou dois editais neste ano. Um deles prevê a terceirização de atendimento de pacientes com problema na retina; o outro, o funcionamento de uma carreta para realizar 200 cirurgias diárias de catarata.

A ideia é que a unidade móvel funcione a partir deste mês nos moldes da Carreta da Mulher, visitando mais de uma região administrativa ao longo de um mês e meio. Atualmente, 3 mil pessoas aguardam por cirurgia de catarata no DF. A pasta já havia realizado mutirões para combater a doença em 2011 e em 2012.

"Nossa preocupação no primeiro momento é atacar aquelas situações que impossibilitam as pessoas de ter uma vida normal", disse Miziara. "À medida em que a gente conseguir solucionar essas urgências, poderemos dirigir mais atenção às outras situações."

Para a gente isso tem sido um problema muito sério. Sem acesso à consulta, também ficamos sem nossos direitos. E direitos que estão previstos em lei"

César Ashkar, presidente da Associação de Deficientes Visuais do DF

Presidente da Associação Brasiliense de Deficientes Visuais, César Ashkar afirma que a situação tem prejudicado quem depende de laudo médico para obter benefícios previstos em lei, incluindo o Passe Livre e a aposentadoria. A entidade representa cerca de 700 pessoas na capital do país.

"Para a gente isso tem sido um problema muito sério. Sem acesso à consulta, também ficamos sem nossos direitos. E direitos que estão previstos em lei", declarou.

Segundo Ashkar, a espera levou um associado de 22 anos a ficar cego. O rapaz, que nasceu com baixa visão em um olho e sem enxergar do outro, precisou de tratamento depois de ser agredido no rosto, mas não conseguiu atendimento a tempo.

"Entramos na Justiça para obrigar a rede a ampará-lo, mas nem assim", diz o presidente. "Quando ele conseguiu fazer a cirurgia, já não tinha mais conserto."

Uma situação semelhante foi divulgada recentemente pelo G1. Mesmo com uma decisão judicial, um mecânico de 54 anos acabou ficando cego depois de passar quatro meses tentando atendimento pela rede pública de saúde.

Problema antigo

Membro da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, Leonardo Reis critica o tempo de espera por consulta no DF e aponta como referência a França, em que um paciente aguarda até 30 dias pelo primeiro atendimento. "Sem dúvida é um prazo longo [o de Brasília], e a demanda reprimida no serviço público precisa ser atendida para que essa fila diminua."

Há vários anos que oftalmologia é uma especialidade que gera muita reclamação do cidadão. O Distrito Federal é um pólo atrativo para Minas Gerais, Goiás e Bahia. É muita gente que vem aqui em busca de cirurgia. Como prever o tamanho disso e manter o serviço adequado, quando há uma demanda tão expressiva de fora?"

Ramiro Sant'Ana, defensor público

Reis afirma que a situação não é exclusividade da capital do país e que os governos precisam investir mais na área, seja fazendo contratações com empresas privadas, comprando equipamentos ou celebrando acordos entre municípios. A entidade estima que 90% da população têm algum distúrbio visual, como miopia, hipermetropia, astigmatismo ou presbiopia, o que torna imprescindível a ida frequente ao oftalmologista.

Para o defensor público Ramiro Sant'Ana, há mais um aspecto que influencia na longa espera no DF: a vinda de moradores de outros estados em busca de atendimento na capital federal.

"Há vários anos que oftalmologia é uma especialidade que gera muita reclamação do cidadão. O Distrito Federal é um polo atrativo para Minas Gerais, Goiás e Bahia. É muita gente que vem aqui em busca de cirurgia. Como prever o tamanho disso e manter o serviço adequado, quando há uma demanda tão expressiva de fora?", questionou.

O massagista José Alves Neto, de 45 anos, afirma que já perdeu as esperanças de conseguir atendimento. Por causa de um glaucoma, ele perdeu os dois olhos com menos de 3 anos de idade e desde 2000 tenta fazer cirurgia para colocar próteses no lugar.

"A gente perde até as contas de tudo o que já tentou e ficou sem resposta. É frustrante. É tudo muito difícil e muito penoso. E, por causa da deficiência, a gente ainda é discriminado", disse.


Fonte: RAQUEL MORAIS - Portal G1 DF

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