terça-feira, 22 de julho de 2014

REJEIÇÃO DO ELEITORADO DERRETE O PT QUE AGORA LUTA PARA TENTAR LEVAR DILMA AO SEGUNDO TURNO

Repercute amplamente artigo assinado pelo secretário-geral do PSD, Saulo Queiroz, prevendo a derrota acachapante de Dilma Rousseff. Não apenas dela, mas de todo o PT. O artigo, intitulado “De mal a pior”, foi publicado no site do Estadão, porém dentro da coluna de análise política do jornalista João Bosco, baseado em Brasília.
O artigo está muito bem fundamentado, revela que o autor tem informações privilegiadas, a par de seu profundo conhecimento da política brasileira, sobretudo no que concerne às últimas décadas. Saulo Queiroz é um veterano personagem político brasileiro, segundo anota o analista João Bosco. Teve participações decisivas no processo de redemocratização que elegeu Tancredo Neves, em 1984; na Constituinte de 1988 e, mais tarde, na aliança que elegeu Fernando Henrique Cardoso. Egresso do PFL, depois DEM (Democratas), é atualmente o Secretário Geral do PSD liderado pelo ex-prefeito paulistano Gilberto Kassab.
A rigor, são poucos os políticos brasileiros que detêm a bagagem de experiência e participação ativa na política acumulada por Saulo Queiroz, razão pela qual o que ele escreve e assina embaixo não são palavras ao vento. Por um lado, o escrito tenta justificar o apoio de Kassab e do PSD à “presidenta” que, seguindo o raciocínio do articulista, estaria sendo vítima de uma rejeição total, irrestrita e sem volta do eleitorado em relação ao PT, ou as duas coisas. Isso seria o efeito efeito mortal do mensalão, segundo afirma Queiroz. Seja como for, não deixa de ter sentido a análise formulada. Intui o articulista que a ficha caiu para a opinião pública quando esta conheceu, por meio do julgamento no STF, o tamanho da corrupção petista. Ao que eu aduzo: antes tarde do que nunca.
Além disso, há que se contextualizar a análise de Queiroz neste momento, lembrando a inusitada manchete da Folha de S. Paulo do último sábado que tentou desqualificar o candidato oposicionista Aécio Neves. E mais: quem acompanha a crônica política da grande imprensa brasileira constata que nenhum jornalista produziu qualquer conteúdo que possa ser comparável ao artigo de Saulo Queiroz. E tem mais: seu escrito não foi publicado na seção consagrada pelo Estadão a articulistas colaboradores, mas dentro de uma coluna de política. Transcrevo na íntegra:

De mal a pior
Por Saulo Queiroz
A última pesquisa Datafolha mostrou a extensão de uma doença que avança pelo País: a rejeição ao PT e a Dilma. Como são duas entidades diferentes, não é fácil saber qual é depositária do percentual mais forte, mas há indícios de que a rejeição ao PT é de controle mais difícil.
Outro aspecto que fica claro é sua susceptibilidade ao contágio, que aumenta com maior velocidade nos grandes conglomerados urbanos, mas avança também, mais lentamente, nas pequenas cidades e até em espaços que pareciam imunes, como o Nordeste, onde a rejeição a Dilma alcançou incríveis 23%.
Para se ter uma ideia do que isso significa vale lembrar que na eleição presidencial passada, em pesquisa Datafolha de 23.07.2010, a rejeição a Dilma em todo o País era de 19%. Nesta última pesquisa já alcança 35%, quase o dobro de igual período em 2010.
Para uma identificação mais precisa do depositário da maior taxa de rejeição, se o PT ou Dilma, é preciso uma rápida caminhada pelo País, começando pelo Sul. O PT tem candidato nos três Estados, mas apenas no Rio Grande do Sul seu candidato está em segundo lugar nas pesquisas.
No Paraná e Santa Catarina estão em terceiro. No Sudeste, o desempenho é pífio em São Paulo com Alexandre Padilha, sofrível no Rio de Janeiro, com Lindhberg Farias ,em quarto lugar, e sem expressão no Espírito Santo.
Apenas em Minas Gerais, com Fernando Pimentel, apresenta um desempenho satisfatório, mas a lógica é que ele não resistirá a máquina de moer carne que o espera, com Aécio Neves crescendo nas pesquisas para Presidente, um candidato ao governo, Pimenta da Veiga, de boa história, e um ao Senado, com a qualidade e aprovação de Antonio Anastasia, o governo do Estado e a maioria de deputados.
No Nordeste seu candidato na Bahia, maior colégio eleitoral da região está muito atrás do candidato do DEM. É segundo no Ceará e apenas no Piauí mantém folgada liderança. Nos demais Estados apoia candidatos de outras legendas, o que significa dizer que nestes quatro anos não consolidou personagens estaduais para concorrer ao cargo de governador, o que demonstra fragilidade partidária.
A pergunta que fica é: que culpa cabe à presidente Dilma por esta fragilidade do PT em seu principal reduto eleitoral que é o Nordeste. Penso que muito pouca. No Norte, afora o Acre onde pode reeleger o governador, não tem presença de destaque nos principais colégios eleitorais, visto que apoia o PMDB no Pará e Amazonas, além de fazer o mesmo em Tocantins.
No Centro Oeste tem candidato a reeleição no Distrito Federal com baixa perspectiva, em Goiás sem nenhuma e no Mato Grosso não tem candidato. Apenas em Mato Grosso do Sul tem perspectivas concretas de vitória porque seu candidato, o senador Delcídio Amaral, está bem a frente nas pesquisas e tem baixa rejeição. A questão é saber até onde ele resistirá ao processo de contaminação, visto que o Estado é vizinho de São Paulo e Paraná, onde é virulenta a rejeição ao PT – a maior em todo o País. Há que se vacinar para controlar o contágio.
Finalmente, é quase chocante que um partido que comanda o País há 12 anos, tenha favoritismo para eleger apenas três governadores, em Estados de pequena densidade eleitoral e dois senadores. Cinco em 54 disputas majoritárias. Quase nada. A pergunta, repetitiva, é se foi Dilma a responsável por uma rejeição que se estendeu por todo o Pais ou se foi o PT o principal responsável pela rejeição de Dilma. Não vale dizer que as duas se encontram.
A verdade é que estes últimos quatro anos de governo da presidente Dilma foram marcados por dificuldades na economia, não só aqui no Brasil, mas em quase todo mundo. Evidente que o governante paga uma conta que nem sempre é sua, como aconteceu nas eleições realizadas na Europa, mas é do jogo da política.
Lula presidente, a economia bombou, ele soube tirar proveito político disso e se tornou quase um ídolo no País. E ainda arrastou seu PT para o bom caminho da vitória nas eleições de 2010. Mas será que as dificuldades de Dilma, a baixa avaliação de seu governo, seria a causa principal para o desgaste do Partido em quase todos os Estados ou será que a causa é mais além?
Com certeza, mais além. No período do governo Dilma o País viveu o episódio que representou o maior massacre pelo qual já passou um partido na história política desse País: o julgamento do mensalão. Meses e meses de intensa cobertura de televisão, rádios e jornais de um julgamento onde o principal réu acabou se tornando o PT.
Engana-se quem acha que isto não teve grande importância. Teve sim e pensar o contrário é um menosprezo à opinião pública. Evidente que foi determinante para criar esse vírus da rejeição ao PT, que se espalha pelo País. A bem da verdade, nem Dilma nem seu governo têm qualquer coisa a ver com o mensalão. Ela, como muitos outros candidatos petistas, é apenas uma vítima.
Quanto à eleição presidencial deste ano o quadro caminha para um desfecho trágico para o PT e sua candidata. Quem estiver olhando para os números atuais das pesquisas e avalia que há um quadro de indefinição comete um erro básico de julgamento.
Há um status totalmente diferente entre os competidores, porque enquanto Dilma é conhecida por 99% dos eleitores, 19 e 36% desconhecem Aécio e Eduardo Campos, respectivamente. Todos os dados das pesquisas atuais mostram apenas a notória rejeição da candidata à reeleição.
Aécio e Campos são fatos para após o início do horário eleitoral. Vale que olhemos um pouco para 2010. Em 23.07, havia um empate entre Dilma e Serra, ambos com 36% de preferência. Em 15.09, com 25 dias de horário eleitoral, Dilma tinha 50% e Serra 27%.
Evidente que, agora, em meados de setembro, quando todos conhecerem melhor Aécio e Campos, os números serão diferentes e, tudo indica, um deles estará a frente de Dilma e, muito à frente, ambos, em uma simulação de segundo turno.
Não é provável, mas não impossível, que nesta data a campanha da presidente esteja com a preocupação voltada para assegurar sua presença no segundo turno. Apenas isso, porque não haverá mais nenhuma perspectiva de vitória.

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