Movimento Psiu contra a gordofabia
começou em Brasília mas já ganhou o país.
Foi em uma sessão de fotos
sensuais e descontraídas que conheci três moças integrantes do Movimento Psiu,
Diga Não ao Preconceito, cheias alegria e histórias pra contar.
Poliana Marinho, Luiza Carolina e
Isabel Cristina encontraram-se comigo no Studio Nany Fotografias em Vicente
Pires e tivemos um bate-papo emocionante.
Poliana Marinho
Poliana, nosso principal contato
com o Movimento, por ser moradora de Vicente Pires, nos explicou que tudo
começou em Brasília após as Misses Plus Size Evelize Nascimento, Camila Bueno,
Janaína Graciele e Claudia Gomes terem sido fotografadas em poses sensuais em
frente ao Congresso Nacional em 11 de novembro em manifesto ao constrangimento
sofrido em um hotel da Capital Federal, onde ouviram que uma cama não caberia
duas das quatro modelos.
Após essas fotos sofrerem outras
ofensas em rede social por um Policial Militar que chegou a chama-las de
“leitoas” e “pessoas bizarras” em seu post. Em forma de protesto contra o
preconceito sofrido por elas dias depois o Movimento Psiu nasceu, criado pela
juíza Ana Paula Damasceno e ganhou o país.
Várias pessoas passaram a aderir
e apoiar o Movimento, inclusive famosos, como a atriz Fabiana Carla. As pessoas
estão postando fotos com o dedo indicador na boca para calar não só a
gordofobia, mas qualquer tipo de preconceito.
Dentre os depoimentos Poliana nos
revelou que, em 2004, quando estava grávida de gêmeas, foi ao hospital e não recebeu
atendimento adequado, por ser obesa, a médica apenas disse que não sentia as
crianças em sua barriga e pelo descaso, Poliana perdeu as filhas, ficou na UTI
e precisou passar por uma histerectomia, correu risco de não mais andar, o que não
se confirmou. Por essa complicação, hoje ela não pode fazer exercícios, ou
pegar peso. Depois de tudo isso não foi impossível para Poliana se ver em meio
a uma depressão. “Não é fácil olhar para minhas cicatrizes e saber que não
posso mais ter filhos....e para ter relações com a barriga toda marcada!?” revelou
ela.
Só que a aceitação do próprio
corpo e de sua atual condição não é o único dilema de Poliana, após começar a
fazer fotos sensuais, que a ajudaram a reconhecer sua beleza e a aceitar seu
corpo, Poliana também tem que enfrentar o preconceito, tanto nos olhares
críticos da sociedade, quanto os mais pesados que usam das redes sociais para
proferir ofensas em comentários em suas fotos. “As fotos são minhas. Eu sou
mãe, sou filha, no mínimo mereço respeito. E se fosse só crítica, mas não ele
faz para ofender, rasga o ego de qualquer mulher. Já cheguei a pensar mil vezes
antes de sair de casa por causa dele.” – declarou Poliana.
Mas a participação no Movimento
Psiu dá forças para Poliana e as demais prosseguirem fortes e enfrentando tais
ofensas, pois da mesma forma que recebem ofensas, recebem elogios e palavras de
apoio, pessoas que mandam mensagens no particular falando que se inspiram na
força delas, que por exemplo delas começaram a sair, pedem indicações de onde
comprar roupas mais baratas, ou na
numeração correta para elas.
Luiza Carolina
Luiza, outra personagem de nossa
entrevista também tem histórias de preconceito para nos contar. O relato da
Luiza é referente ao mercado de trabalho. Ela se candidatou a uma vaga de
emprego como promotora de supermercado em uma empresa de freelancer e eventos.
Luiza entrou para a entrevista ciente que havia muitas vagas, foi entrevistada
e a atendente disse que entraria em contato, pois não havia mais vagas. A moça
que estava ao lado ficou incomodada e interferiu, disse “no lago sul tem vagas,
vocês pagam duas passagens mesmo, ela pode ir pra lá” relatou Luiza, então a
atendente a olhou de cima a baixo, saiu da sala e voltou chamando-a, ai ela já
se sentiu constrangida, pois todos ficaram a olhando e ela entrou em outra
sala, teve que experimentar uma blusa que fechou no corpo, mas não serviu nos
braços então a atendente foi cínica e disse “Pois é, a gente entra em contato,
porque esse uniforme é o maior que eu tenho.” Luiza se sentiu humilhada.
Uma opinião que elas tem em comum
é a de que poderia existir um projeto das empresas não reaproveitarem
uniformes, também por questões de higiene, mas poderiam fazer um acordo com o
funcionário, assim como o do vale transporte em que o funcionário paga 40% do
valor da passagem, para que o uniforme fosse novo e sobre medida, afinal o
uniforme fica para o funcionário.
Luiza relatou ainda que antes de
entrar para o movimento passou por uma depressão pelo termino de um relacionamento.
“Eu mesma criei coisas na minha cabeça de que meu namorado tinha vergonha de
mim porque eu era gorda, e eu fiz as fotos para me sentir bonita e sensual,
falei para ele que era por causa dele que estava fazendo as fotos.”
Isabel Cristina
Isabel é um pouco mais tímida que
as demais, mas ainda assim conseguiu relatar o preconceito familiar que sofre.
Ela disse que dia sim e outro também ouvi críticas e até ofensas. “Na minha
família eu sofro preconceito constantemente, ‘para de comer.’ ‘Você está muito
gorda’ ‘Tá parecendo uma chupeta de baleia de tão gorda’. ‘Você está muito
gorda, não tem mais numeração de roupa pra você.’”
Uma doença
As pessoas tem que encarar a
obesidade como uma doença, não é por opção, não é por apologia a obesidade que
as meninas dizem isso, alguns tentam emagrecer, outros nem exercícios físicos
podem fazer, tomam corticoides continuamente e ainda tem a depressão que
aumenta o apetite, a TPM.
A modelo de nossa entrevista
Poliana declarou que já tentou fazer todos os tipos de dietas alucinantes que
se conhece hoje, “já fiz a da salsicha, que você como uma salsicha por dia e
divide em três pra não desmaiar, a do melão, do can..., e nunca vesti menos que
44, e isso passando muita, muita fome.”
Então as pessoas tem que entender
que não é por desleixo que algumas pessoas estão acima do peso. Alguns tem
tendência a ser grandes, mais gordinhos, com mais curvas que outros. As meninas
pregam a saúde, se for gordo mas estiver saudável, seja feliz com seu corpo. O
Movimento Psiu quer apenas abrir os olhos da sociedade para o respeito com o
outro, não só os gordos, os negros, as mulheres ou os
homossexuais, mas com o ser humano.
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