mitologia2“O mito é um nada que é tudo.” Com esta expressão um tanto simplista, o nosso grande poeta português, Fernando Pessoa, faz na verdade uma crítica aos mitos, sobretudo aos ligados às culturas e crenças milenares, que são vistos pela ciência moderna como fantasias de povos antigos, histórias que viraram lendas, e que depois de lendas se tornaram mitos. E hoje a humanidade os conserva, por meio de ritos, sejam estes religiosos ou profanos.
Mito (do grego antigo μυθος, translit. “mithós”) pode ser uma narrativa de cunho simbolista, onde são apresentadas grandes imagens e lições de moral, como por exemplo, o mito de Prometeu e Pandora e O Mito da Caverna, que é de fato uma alegoria, mas ganhou status de mito. Uma das lendas mais belas e conhecidas da mitologia grega é a de Eros e Psiquê. O conhecimento geral da lenda se dá pela figura bastante difundida do anjo Eros (ou Cupido). Eros era filho da deusa do amor, Afrodite, um imortal de beleza inigualável.
Contudo, há uma série de mitos em várias gerações, e em vários continentes, que persistem em nos influenciar e até nos reger de certa forma. Somos vez por outra lembrados dos mitos gregos, que sem dúvida representam os mais importantes mitos de toda história humana. Os gregos possuem uma mitologia muito rica e impressionante. Mas seus mitos, apesar de estarem ainda bem vivos em nossa mente, não têm mais tanta relevância no ocidente, são de fato lembrados, citados e até estudados, mas não possuem mais fortes influências sobre a vida moderna. Graças à filosofia, mitos que outrora regiam a vida dos bárbaros, e por algum tempo também a vida dos nobres gregos e romanos, sucumbiram, ante o pensamento racional, especialmente com os filósofos modernos, como Descartes, Espinosa e Kant. Podemos afirmar que os mitos gregos existiram até Aristóteles, o legítimo pai da ciência.
Já para a filosofia, que tem o papel de expor as coisas, o mundo e o homem sobre uma ótica racional, o mito com o passar do tempo foi sendo por ela questionado, e muitos deles vieram ao chão, ou desapareceram por completo. A Grécia antiga constituiu uma base para sua educação formal por meio de mitos, narrativas e discursos, que tinham como função fundamental, instruir, ensinar aos homens as origens das leis, e até a origem do universo.
Foi Homero, autor dos livros, (Íliada e Odisseia) o grande organizador de mitos que perduram até os nossos dias. Platão e Sócrates não questionaram os mitos, pelo contrário, os engordaram, os enriqueceram e criaram outros. Sócrates é sem sombra de dúvida o mito de Platão. Há toda uma áurea de mistérios envolvendo a vida e a morte de Sócrates, foi Platão quem tratou de imortalizá-lo. Mesmo outros filósofos e escritores modernos como Camus e Saramago preservaram os mitos e construíram seus pensamentos revolucionários com base mitológica. José Saramago usou o Mito da Caverna como epígrafe de uma de suas obras. “O mito fala sobre prisioneiros (desde o nascimento) que vivem presos em correntes numa caverna e que passam todo tempo olhando para a parede do fundo que é iluminada pela luz gerada por uma fogueira. Nesta parede são projetadas sombras de estátuas representando pessoas, animais, plantas e objetos, mostrando cenas e situações do dia-a-dia. Os prisioneiros ficam dando nomes às imagens (sombras), analisando e julgando as situações.”
Albert Camus, com o Mito de Sísifo. Na mitologia grega, Sísifo, foi filho do rei Éolo, da Tessália, e Enarete, era considerado o mais astuto de todos os mortais. Ao morrer, Sísifo foi considerado um grande rebelde e foi condenado pelos deuses a empurrar, por toda a eternidade, uma grande pedra até o cume de uma montanha só para ela rolar montanha abaixo sempre que estava prestes a alcançar o topo, começando tudo de novo.
Albert Camus usou este mito grego para desenvolver um ensaio magnífico, onde trata do suicídio e do absurdo humano, da busca infinda do homem pela verdade e pela felicidade, tendo a vida como uma grande cadeia, uma condenação eterna, que por mais que se esforce, homem algum, segundo este pensamento, jamais conseguirá chegar ao topo sem derrubar, por assim dizer, a pedra que carrega sobre a cabeça. Esta pedra simbólica é a luta para vencer a morte e encontrar a felicidade eterna, ou o verdadeiro sentido da vida.
Falamos todos os dias sobre mitos e com mitos, Sobre a superação humana, usamos o mito da Fênix, este de tão popular virou fala proverbial no senso comum. No entanto, há também os mitos modernos, como Mandela, Gandhi, Pelé, Obama,Lula, etc… E em breve teremos outros tantos materializados em nosso inconsciente. Mitos são mais reais que humanos, embora duvidemos deles quando nos pomos a raciocinar sobre suas origens e importâncias em nossa vida prática. Talvez Nosso poeta maior tenha mesmo se aproximado mais da verdade sobre os mitos do que todos os nossos filósofos – dos pré-socráticos aos pós-modernos.