(Estadão) Num cenário para as principais variáveis econômicas para o Brasil até 2018 que consideram realista, os economistas Vilma da Conceição Pinto e Lívio Ribeiro, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), estimam que o governo teria de gerar receitas não recorrentes – basicamente com a venda de ativos – de mais de R$ 200 bilhões em 2016 e 2017 para que a projeção da dívida bruta anunciada na quarta-feira fosse alcançada.
Uma venda de ativos desse porte provavelmente exigiria um robusto programa de privatização combinado com uma maciça venda de reservas internacionais.Os economistas partem da trajetória de superávits primários do setor público consolidado e da dívida bruta para 2015, 2016, 2017 e 2018 anunciada na quarta-feira pelo governo: de, respectivamente, 0,15%, 0,7%, 1,3% e 2% do PIB; e 64,7%, 66,4%, 66,3% e 65,6% do PIB.
Num exercício inicial, eles calcularam qual seria a evolução da dívida bruta caso a trajetória da Selic, do IPCA e do crescimento do PIB até 2018 acompanhassem as projeções do Boletim Focus, que traz a mediana das expectativas de mercado. Neste caso, a dívida bruta chegaria a 67,4% do PIB em 2018. Supondo que o governo cubra a diferença vendendo ativos em 2016 e 2017, seria necessário que a venda fosse de 0,9% do PIB em cada um dos dois próximos anos – em termos absolutos, isso significaria uma venda de R$ 56,4 bilhões em 2016 e de R$ 60 bilhões em 2017, usando as projeções do Focus para o PIB.
Vilma e Ribeiro, entretanto, consideram que as previsões do Focus para 2017 e 2018 são muito otimistas. É sabido que as instituições preocupam-se menos com as projeções de mais longo prazo do Focus, e que suas revisões são mais esparsas, o que leva a defasagens com o que é a percepção de momento do mercado.
Assim, eles estimaram a evolução da dívida bruta até 2018 para um cenário que julgam razoável, combinando previsões oficiais do Ibre, do Focus e hipóteses que arbitraram (e que não são oficiais do Ibre). Os economistas frisam que não fizeram nenhum cenário oficial, mas apenas testaram hipóteses razoáveis para ter a sensibilidade dos parâmetros implícitos nas projeções do governo.
Neste cenário, o PIB cai 2,2% e 0,1% em 2015 e 2016, e sobe 1% e 1,5% em 2017 e 2018. A Selic de final de ano em 2015, 2016, 2017 e 2018 é de, respectivamente, 14,5%, 12%, 11% e 11%. Já o IPCA nos quatro anos consecutivos é de 9%, 5,4%, 4,6% e 4,5%.
Com essas projeções, a dívida bruta atinge 69,6% do PIB em 2018. Para que chegasse aos 65,6% projetados pelo governo, as receitas não recorrentes teriam de ser de 1,9% do PIB em 2016 e 2017 – em termos absolutos, de respectivamente R$ 117,8 bilhões e R$ 124,4 bilhões, num total de R$ 241,4 bilhões.
Se o governo conseguir receitas não recorrentes expressivas já em 2015, aquele número cai, devido à dinâmica da dívida. Por outro lado, ele pressupõe que toda a venda de ativos se conclua até 2017, o que, dado os volumes gigantescos, pode ser uma hipótese otimista. A conclusão é que os números do governo não fecham a não ser com um colossal programa de venda de ativos, cuja factibilidade política, no caso das privatizações, ou de equilíbrio macroeconômico, no caso da venda de reservas, é muito discutível.
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