quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Abuso Sexual: Causas e Sequelas



Mais um caso de abuso sexual coletivo, em 10 de janeiro, chegou à mídia: uma criança de 11 anos foi violentada no Recanto das Emas por cinco rapazes, um adulto de 20 anos e quatro adolescentes entre 13 e 17 anos. Eles filmaram o ato de violência e o compartilharam.
Vamos refletir: o que leva os jovens a filmar e compartilhar este tipo de ataque agressivo com expressão sexual mesmo sabendo se tratar de um crime? O que pretendem com isso?
 O apoio do grupo os motiva a mostrar aos seus conhecidos sua “virilidade”, “masculinidade” e “poder”. Afinal eles são “machos” e praticam sexo. Vangloriam-se por desta “conquista”. Consideram uma vitória pessoal, mesmo se tratando de um crime monstruoso. Este ato alimenta seu ego arrogante.
O estuprador se sente em condição de superioridade em relação à vítima, seja no abuso coletivo ou individual: por ter maior força física, por portar uma arma ou por questão de posição social. Quando uma vítima passa a ser considerada um objeto de satisfação sexual e sofre um ataque agressivo, pode-se observar o machismo e a ilusão de superioridade por parte do agressor. Não há mensuração das sequelas para a vítima, ela é usada.
Segundo dados da Secretaria Pública, em 2016 houve o registro de 392 casos de estupros de vulnerável (crianças e adolescentes) no DF. Destes 342 eram do sexo feminino. Fora casos não registrados (estima-se que a metade das vítimas não faz o registro por vergonha, culpa ou medo).
Cada pessoa absorve o trauma de uma forma diferente, de acordo com a experiência de vida, valores e crenças. De qualquer forma existem sequelas deste trauma. Sejam elas físicas ou psíquicas.

As sequelas físicas, aquelas que deixam marcas no corpo, podem ser: gravidez, aborto, doenças sexualmente transmissíveis (DST). Em se tratando de meninas ou mulheres muito jovens, a perda da virgindade. Além disso, lesões permanentes, hemorragias, hematomas, dores de cabeça, dores abdominais, problemas crônicos que surgem após ter sido violentada.
Os traumas psicológicos são aqueles que interferem na forma de agir e se comportar. Logo após o episódio sofrem de estresse agudo. Posteriormente podem apresentar transtorno de estresse pós-traumático. As consequências mais comuns são: confusão mental, relembrar o ataque em pensamento, pesadelos, culpa, depressão, baixa autoestima, comportamentos antissociais, medo (de ficar sozinha, de ser assassinada), incapacidade de se proteger, síndrome do pânico, dificuldade em se envolver num relacionamento amoroso, transtornos sexuais (distúrbios no instinto sexual), inibição da sexualidade, pensamentos suicidas.
Além se ter sido abusada a vítima pode enfrentar ameaças a partir do estuprador, como uma forma de evitar que ela relate o fato, não dê queixa dele ou sob a acusação de que ela tenha provocado o estupro. Pode também ter sofrido ameaça à sua vida.  E ainda a vítima pode acreditar que será rejeitada por ter sido estuprada. Existem sequelas que são muito profundas!
E quem é essa menina de 11 anos? Quem são estas 342 vítimas de 2016?
Elas são as mulheres de amanhã. São a força de trabalho feminino, as profissionais, as amigas, as geradoras de vida humana: a próxima geração de mães. Elas precisam ser saudáveis, instruídas, conscientes e fortes para dedicarem-se aos filhos com amor e paciência. Devem ser capazes de educar com valores e segurança. Precisam superar este trauma para seguir em frente. Em uma sociedade em que as mulheres não são compreendidas e nem consideradas importantes, e ainda são suprimidas, não pode haver equilíbrio, harmonia e paz.
Por isto o apoio e compreensão dos familiares ou pessoas próximas são fundamentais, e para que isso ocorra de maneira adequada, faz-se necessária a avaliação e orientação psicológica.
Como então, prevenir este problema?
Desde pequenos as crianças devem ouvir nas escolas e em casa sobre igualdade de gêneros. Além disso, a partir de dois anos de idade a criança pode começar a ser instruída sobre a privacidade de seu corpo, que não deve ser tocada em suas áreas genitais por outras pessoas, apenas o médico e na presença dos pais. A orientação sexual feita pelo responsável precisa ser contínua e natural no decorrer da infância e adolescência.
Lembre-se: não julgue, a vítima NUNCA tem culpa. E em caso de violência ou abuso sexual, disque 100.

Letícia Souto
Psicóloga Analítica
Consultório: Feira do Produtor, Edifício Souza, sala 201
Fone e WhatsApp: 98426-9993




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