Mais um
caso de abuso sexual coletivo, em 10 de janeiro, chegou à mídia: uma criança de
11 anos foi violentada no Recanto das Emas por cinco rapazes, um adulto de 20
anos e quatro adolescentes entre 13 e 17 anos. Eles filmaram o ato de violência
e o compartilharam.
Vamos
refletir: o que leva os jovens a filmar e compartilhar este tipo de ataque
agressivo com expressão sexual mesmo sabendo se tratar de um crime? O que
pretendem com isso?
O apoio do grupo os motiva a mostrar aos seus
conhecidos sua “virilidade”, “masculinidade” e “poder”. Afinal eles são “machos”
e praticam sexo. Vangloriam-se por desta “conquista”. Consideram uma vitória
pessoal, mesmo se tratando de um crime monstruoso. Este ato alimenta seu ego
arrogante.
O
estuprador se sente em condição de superioridade em relação à vítima, seja no
abuso coletivo ou individual: por ter maior força física, por portar uma arma
ou por questão de posição social. Quando uma vítima passa a ser considerada um
objeto de satisfação sexual e sofre um ataque agressivo, pode-se observar o
machismo e a ilusão de superioridade por parte do agressor. Não há mensuração
das sequelas para a vítima, ela é usada.
Segundo
dados da Secretaria Pública, em 2016 houve o registro de 392 casos de estupros
de vulnerável (crianças e adolescentes) no DF. Destes 342 eram do sexo feminino.
Fora casos não registrados (estima-se que a metade das vítimas não faz o
registro por vergonha, culpa ou medo).
Cada pessoa absorve o trauma de uma forma
diferente, de acordo com a experiência de vida, valores e crenças. De qualquer
forma existem sequelas deste trauma. Sejam elas físicas ou psíquicas.
As
sequelas físicas, aquelas que deixam marcas no corpo, podem ser: gravidez,
aborto, doenças sexualmente transmissíveis (DST). Em se tratando de meninas ou
mulheres muito jovens, a perda da virgindade. Além disso, lesões permanentes, hemorragias,
hematomas, dores de cabeça, dores abdominais, problemas crônicos que surgem
após ter sido violentada.
Os
traumas psicológicos são aqueles que interferem na forma de agir e se
comportar. Logo após o episódio sofrem de estresse agudo.
Posteriormente podem apresentar transtorno de estresse pós-traumático. As
consequências mais comuns são: confusão mental, relembrar o ataque em
pensamento, pesadelos, culpa, depressão, baixa autoestima, comportamentos antissociais,
medo (de ficar sozinha, de ser assassinada), incapacidade de se proteger, síndrome
do pânico, dificuldade em se envolver num relacionamento amoroso, transtornos
sexuais (distúrbios no instinto sexual), inibição da sexualidade, pensamentos
suicidas.
Além
se ter sido abusada a vítima pode enfrentar ameaças a partir do estuprador,
como uma forma de evitar que ela relate o fato, não dê queixa dele ou sob a
acusação de que ela tenha provocado o estupro. Pode também ter sofrido ameaça à
sua vida. E ainda a vítima pode
acreditar que será rejeitada por ter sido estuprada. Existem sequelas que são
muito profundas!
E quem
é essa menina de 11 anos? Quem são estas 342 vítimas de 2016?
Elas
são as mulheres de amanhã. São a força de trabalho feminino, as profissionais,
as amigas, as geradoras de vida humana: a próxima geração de mães. Elas
precisam ser saudáveis, instruídas, conscientes e fortes para dedicarem-se aos
filhos com amor e paciência. Devem ser capazes de educar com valores e
segurança. Precisam superar este trauma para seguir em frente. Em uma sociedade
em que as mulheres não são compreendidas e nem consideradas importantes, e
ainda são suprimidas, não pode haver equilíbrio, harmonia e paz.
Por
isto o apoio
e compreensão dos familiares ou pessoas próximas são fundamentais, e para que
isso ocorra de maneira adequada, faz-se necessária a avaliação e orientação
psicológica.
Como
então, prevenir este problema?
Desde
pequenos as crianças devem ouvir nas escolas e em casa sobre igualdade de
gêneros. Além disso, a partir de dois anos de idade a criança pode começar a
ser instruída sobre a privacidade de seu corpo, que não deve ser tocada em suas
áreas genitais por outras pessoas, apenas o médico e na presença dos pais. A
orientação sexual feita pelo responsável precisa ser contínua e natural no
decorrer da infância e adolescência.
Lembre-se:
não julgue, a vítima NUNCA tem culpa. E em caso de violência ou abuso sexual,
disque 100.
Letícia Souto
Psicóloga Analítica
Consultório: Feira do Produtor, Edifício Souza,
sala 201
Fone e WhatsApp: 98426-9993
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