6 jan 2021
Palácio do Buriti: os rastros das FAKE NEWS com as digitais do comando
Por Mino Pedrosa
A Operação Abscôndito, deflagrada pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), em setembro do ano passado apreendeu um computador com conteúdo bombástico que revelou um esquema criminoso comandado a partir da Secretária de Estado de Comunicação do Distrito Federal (Secom-DF). A operação buscava identificar os responsáveis por um veículo de comunicação acusado de praticar FAKE NEWS. O site usava como pano de fundo a justificativa de divulgar as ações do governo, mas, na verdade o veículo era usado para atacar políticos, empresários e jornalistas considerados adversários do projeto político do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB-DF).
O comando do crime tem gabinete no Palácio do Buriti. O secretário de comunicação do GDF, aliado a um consultor remunerado pelo escritório de advocacia do governador Ibaneis Rocha, colocaram em prática um projeto envolvendo mídias alternativas com a intenção de camuflar interesses privados e governamentais, financiados diretamente com verbas públicas e de empresas privadas prestadoras de serviços para o GDF.
Weligton Moraes (vulgo Baiano) e seu comparsa Paulo Pestana, considerado pelo governador: consultor e colaborador, juntos executaram um projeto envolvendo uma associação de blogueiros para divulgar as ações do governo e selecionou três jornalistas para colocarem em prática as ações de combate contra os considerados inimigos do governo. Em meados de 2019, Baiano e Pestana contrataram o jornalista e blogueiro Darione de Melo Silva, popularmente conhecido como Donny Silva com a proposta de produzir matérias denunciando e atacando a honra dos considerados adversários. O pagamento seria feito por meio de mídias publicitárias postadas no site do jornalista.
Donny Silva rechaçou a proposta e sugeriu que o pagamento fosse feito por meio de nomeações na Companhia Imobiliária de Brasília (TERRACAP) e no Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IGES-DF) para que somados os valores formassem um pagamento mensal sem atrasos. Weligton Moraes fechou o acordo, mas, o presidente do IGES-DF a época, Francisco Araújo, preso na Operação Falso Negativo, não concordou com a nomeação de Donny Silva. Foi aí que Paulo Pestana combinado com Baiano contataram a agência PROPEG COMUNICAÇÃO S/A, prestadora de serviços para o GDF afim de financiar por meio de contrato anual fictício de assessoria de imprensa o valor de R$ 12.000,00 (doze mil reais) mensais, sendo complementado por verbas publicitárias da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) e Banco Regional de Brasília (BRB).
O contrato fictício com a PROPEG foi firmado com a empresa de Donny Silva, D&M Serviços de Publicidade e Comunicação Digital EIRELI em 22 de julho de 2020. Donny começou os trabalhos pautados por Weligton Moraes e Paulo Pestana e segundo eles a mando do governador Ibaneis Rocha, divulgando as ações do governo e atacando integrantes do próprio governo, porém, nesse caso sem aparecer. Para omitir suas digitais, Pestana e Baiano orientaram o jornalista Donny Silva a criar um site que não tivesse vínculo com o bando. A partir daí Donny Silva contatou Felipe Nogueira Coimbra casado com a jornalista Michelly Ribeiro de Souza Nogueira. Donny encomendou um site a Felipe que o montou com o nome de: De Olho no Poder (www.deolhonopoder.com.br). Como pagamento pelo site Paulo Pestana nomeou no gabinete da vice governadoria a jornalista esposa de Felipe. O que o criador do site não disse a Donny foi que o verdadeiro dono do site era um presidiário. Ou seja, De Olho no Poder tinha um perfil falso.
Pestana e Baiano não só pautavam Donny Silva como também a jornalista Michelly Ribeiro de Souza Nogueira. As matérias publicadas atendiam segundo o secretário Weligton Moraes aos mandos de Ibaneis, no entanto, não revelava os verdadeiros interesses da dupla. Os ataques ao presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, se deram porque Weligton Moraes queria cuidar diretamente da verba publicitária do banco. Paulo Henrique não concordou e a partir daí alguns blogs e sites remunerados fizeram várias matérias denunciando a gestão da atual diretoria. Paulo Pestana falava aos blogueiros que era determinação do governador Ibaneis, que inclusive já havia suspendido o pagamento da verba publicitária do GDF para Rede Globo e exigia do banco a mesma postura. Paulo Henrique, segundo Weligton, não concordou alegando que tal conduta ia contra a política do banco.
Com os mesmos modos operandis atacaram o presidente da CLDF, Rafael Prudente, por haver determinado uma mudança nas agências que atendem a conta publicitária na CLDF, atualmente comandada pelas agências: AV Comunicação e Marketing e DE Brito Brasil, ambas investigadas pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), sendo Baiano sócio oculto da AV. Naquele momento as denúncias contra o presidente da CLDF atendiam a duas vertentes: a empresarial com a dupla Weligton Moraes e Paulo Pestana e a política por agradar o governador Ibaneis Rocha até então rompido com Rafael Prudente. No relatório assinado pelo delegado Jean Carlos Zuliani as investigações fazem menções a um esquema de lavagem de dinheiro de deputados distritais usando blogueiros e sites em uma espécie de mensalão. Além do uso de empresas ligadas diretamente ao parlamentar ou a parentes, prestando serviços para a CLDF.
Nos documentos obtidos pela justiça constam a fotografia do governador embarcando em seu avião particular com destino a sua fazenda em Uberaba. O relato em anexo conta que Weligton Moraes e Paulo Pestana escalaram Donny Silva para monitorar o embarque do governador que iria levar em companhia Kennedy Braga, um lobista conhecido pela justiça e já revelado pelo Quidnovibrasil.com. Donny chegou bem cedo ao aeroporto para acompanhar o embarque e enviou uma fotografia do avião que registrava crianças e mulheres entre os passageiros. Então, Weligton Moraes imediatamente contatou o governador enviando a fotografia dizendo que a imprensa estava monitorando o embarque. Com isso o embarque de Kennedy Braga foi evitado e o governador embarcou de costas para o posicionamento do fotógrafo. O governador foi fotografado trajando tênis, uma bermuda branca e um boné. Ainda segundo o relato Weligton Baiano criou a situação para atribuir a imprensa quando na verdade o monitoramento era feito por ele.
As matérias do site atacaram frontalmente aliados do governo como o presidente da CLDF, Rafael Prudente (MDB-DF), a deputada federal Celina Leão (PP-DF), o presidente da CODHAB, Wellington Luiz e o fiel escudeiro, procurador do Distrito Federal e diretor geral do Detran Zélio Maia da Rocha que sugeridos pelo governador Ibaneis Rocha, denunciaram o site De Olho no Poder na delegacia especializada em crimes cibernéticos. Uma fonte próxima de Ibaneis relatou que ao sugerir que os atacados fizessem a denúncia o governador tinha a certeza de que descobriria quem realmente estaria à frente do site e que em nenhum momento suspeitou da dupla Weligton Moraes e Paulo Pestana, mas, sim que era o vice-governador Paco Brito (Avante). Ainda segundo a fonte para Ibaneis Rocha, Paco Brito está em voo solo e por isso já sinalizou que a deputada Celina Leão é a sua favorita para compor a chapa na reeleição descartando seu atual vice.
A partir da denúncia das vítimas os investigadores chegaram ao presidiário que figurava como o dono do site, mas, que na verdade é um laranja. Com o aprofundamento nas investigações chegou-se a Felipe Nogueira Coimbra, Darione de Melo Silva e a Michelly Ribeiro de Souza Nogueira. Então a polícia montou um organograma de investigação colocando como cabeça o vice-governador Paco Brito e a Felipe Belmont (PSDB-DF) suplente do senador tucano Izalci Lucas (PSDB-DF), como suposto financiador. Ao constatarem que o vice-governador e o suplente de senador não tinham nada a ver com o esquema as investigações perderam o interesse ficando apenas sendo responsabilizados o jornalista Donny Silva e o criador do site Felipe Nogueira.
O que não figura no inquérito é que Felipe é o verdadeiro dono do site De olho no Poder, bem como de outros nove veículos de comunicação entre sites e blogs usados para receber verbas do governo com matérias feitas pela jornalista Michelly Nogueira sua esposa. As tratativas eram feitas diretamente entre Paulo Pestana, Felipe e Michelly autora das matérias. Documentos apreendidos na busca comprovam o pagamento da AV Comunicação para Felipe Nogueira.
O inquérito policial presidido pelo delegado Jean Carlos com 367 páginas, hoje é processo na justiça. Mas, arquivos e documentos juntados ao processo revelam a participação do secretário de comunicação Weligton Moraes e seu comparsa consultor Paulo Pestana, jogando luz em crimes cometidos por parlamentares e que não constam no inquérito policial. Os diálogos entre Paulo Pestana e o jornalista Donny Silva deixam claro o comando criminoso instalado no gabinete do secretário de comunicação do Distrito Federal no Palácio do Buriti.
Documentos comprovam que pouco antes do natal o consultor Paulo Pestana, sumido desde a deflagração da Operação, convocou o jornalista Donny Silva para uma reunião na sala na Secom-DF e na presença de Weligton Moraes, informou ao jornalista que a Propeg estaria rescindindo o contrato com a empresa do blogueiro devido as investigações em curso. Contudo, garantiu ao jornalista que o acerto continuaria sendo honrado mesmo com a rescisão. Porém sem contrato para evitar rastros. E realmente como anunciado o referente contrato iniciado em 22 de julho de 2020 se encerra em 21 de janeiro próximo.
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