Uma ação comunitária cujo objetivo não era derrubar ninguém. A administradora Celeste caiu, por pura falta de habilidade política.
(*)
Por Geraldo Oliveira - do blog Vicente Pires Alerta
Caro
amigo e amiga, ficará para a história de nossa cidade o episódio do
tapa-buracos ocorrido no último dia primeiro de março, quando eu, Gilberto
Camargos, Alberto Meireles e alguns outros moradores tentávamos amenizar um
pouco o caos do cruzamento da Rua 3 com a 10. No lugar, existia uma cratera de quase
três metros quadrados que impedia os ônibus coletivos de trafegarem, além de
outros incontáveis buracos menores nas imediações. Alguns veículos pequenos até
conseguiam passar pelas laterais, mas outros perdiam seus para-choques ou
ficavam pendurados no buracão.
Naquela
manhã de domingo eu pretendia ir para a chácara com minha família, onde iria saborear
uma deliciosa galinha caipira. Mas, como o dever comunitário acaba me movendo
para o outro lado, (me fazendo cometer o desatino de perder a galinha caipira
preparada por minha sogra), tive de me justificar com minha esposa, que acabou
indo sozinha. E lá fomos nós para o local, com a cara, a coragem, um pequeno
trator e uma faixa aproveitada de uma ação comunitária que a AMOVIPE fez na Colônia
26 de setembro, com os dizeres: “O
GOVERNO NÃO QUER FAZER, O POVO FAZ”.
É
claro que, além de buscar amenizar um pouco a situação, tentávamos chamar a
atenção sim para o caos que tomou conta das vias de Vicente Pires, que causa a
cada morador/contribuinte daqui imensa indignação. Senão, se fizermos uma
pequena conta dos impostos que pagamos (aproximadamente 20 milhões de reais de
IPVA e 30 milhões de IPTU, entre outros), chegamos à convicção de que pelos
menos uma modesta parcela desses impostos deveria ser reinvestida em nossas
vias. Não é pedir muito, se considerarmos o montante pago.
De
fato, com planejamento e ação na estação seca, além de um monitoramento diário
na estação chuvosa, daria para evitar os problemas maiores. Por exemplo, no
local onde tapamos os buracos e também nas outras vias onde jorram os rios de
enxurradas, as erosões ocorrem recidivamente nos mesmos locais. Nesses focos
mais críticos, qualquer leigo sabe que seria possível reforçar o subleito do
asfalto, com compactação de rochas e cascalho, além de um asfaltamento mais
qualitativo, que abrangesse uma área maior. Até uma concretagem, com uma malha
de ferro trançada por baixo, poderia certamente evitar que tais locais
erodissem repetidamente no mesmo lugar.
Mas
voltemos ao tapa-buracos, que causou tanta celeuma. Nosso serviço ocorreu assim:
enquanto esperávamos chegar o pequeno trator emprestado do nosso companheiro Alberto
Meireles, fomos afixar a faixa de protesto na lateral da “Rua-Rio 3”. Nosso objetivo
era fazer um paliativo com o fresado solto, trazido pelas próprias enxurradas,
pois tínhamos consciência de que não daríamos conta de solucionar de vez o
problema. O trator chegou, começou a trabalhar, juntou o entulho que estava
espalhado, colocou nos buracos e compactou com os próprios pneus. Tivemos o
cuidado de tirar fotos antes, durante e depois, a fim de divulgarmos o
resultado. Mais tarde, tais fotos serviriam para nossa defesa.
Na
medida em que o trator trabalhava, os voluntários de nosso grupo pediam doações
em dinheiro aos que passavam, pois precisávamos pagar o óleo diesel e o
operador da máquina. Com a arrecadação, pretendíamos expandir o serviço para as
outras vias nos dias seguintes, fazendo o paliativo nos focos mais críticos. O
interessante e o que de certa forma nos motivou bastante, foi ouvir dos motoristas
que passavam as palavras de incentivo: “parabéns pessoal, finalmente alguém
tomou uma atitude!”.
A
atividade transcorreu de forma precária, devido aos poucos recursos
disponíveis, mas foi muito gratificante realizá-la. Trabalhamos das 8 às 12
horas, pois o entulho acumulado na Rua 3 acabou logo. Inclusive os buracos
menores nós não conseguimos tapar, devido ao fim do “precioso insumo”. Com a sensação
do dever cumprido, marcamos nova ação para a terça-feira seguinte (dia 3), na
Rua 10, em frente à Mansão do Boticário. Alberto Meireles nos disse que, para
essa próxima etapa, conseguiria com os amigos mais uma máquina e um ou dois
caminhões, para sermos mais produtivos.
Entretanto,
no dia seguinte (segunda-feira, dia 2), com muita surpresa, recebi um
telefonema da 38ª DP de Vicente Pires, me chamando para depor. Qual a acusação?
“Dano ao patrimônio público, devido à destruição de 1200 metros de asfalto e
prejuízos à população”. Além de mim, Gilberto Camargos, o síndico do Condomínio
91 (Rua 3) João Dárcio Vilela e o ex-administrador Alberto Meireles também
foram chamados pelo delegado. Pasmem! A acusação foi tão absurda que fiquei sem
saber o que pensar. Depois, me veio a indignação, pois a atitude da
Administração foi (além de burra) uma retaliação política, ocorrida de forma irresponsável
e rasteira.
O
que se sucedeu após o BO, todos já sabem. Nossos depoimentos foram colhidos,
houve a perícia e a Administradora Celeste foi exonerada. Eu, particularmente, senti
muito com tal fato, pois não esperava jamais isso de uma pessoa em quem
confiava. A seguir, a grande imprensa entrou no caso e o Vice Governador,
Renato Santana, assumiu a Administração. Gilberto Camargos, o presidente da
AMOVIPE, acabou virando celebridade e não atendia mais ao telefone. Todos os
órgãos de imprensa queriam entrevistá-lo e até a produção do programa “Mais
Você”, da Ana Maria Braga o chamou para gravar. Já no dia 5 de março, Gilberto recebeu
uma homenagem na Câmara Legislativa, “por relevantes serviços prestados à
comunidade de Vicente Pires”.
Após
esse episódio, que considero de extrema importância na
luta comunitária desta região, mas ao mesmo tempo triste, devido à queda de uma
pessoa que considero correta, apesar de ter cometido esse erro do BO, ficou
para mim a certeza de que não há luta que dure para sempre e nem derrota que impeça
uma comunidade ou um povo de continuar lutando. Tenho a convicção de que o povo
brasileiro não pode arrefecer diante dos desafios que se apresentam. É preciso
tomar atitudes e ir para as ruas sempre, nem que seja para tapar buracos.
De
fato, mesmo à custa da queda da administradora Celeste, Vicente Pires se fez
ouvir, o que há muito não ocorria. O Vice-Governador Renato Santana chegou para
apagar a crise, fez uma grande reunião com populares na Administração Regional,
ouviu a todos e disse ao final: Vamos trabalhar! Ao lado dele, estavam os
representantes da Secretaria de Infraestrutura e Obras, NOVACAP, AGEFIS, SLU,
CAESB, CEB e outros órgãos do Governo. De lá para cá, várias outras reuniões do
Vice com as lideranças ocorreram e uma força-tarefa está atuando na cidade,
graças à ideia (ou loucura) de um pequeno grupo que resolveu sair da zona de
conforto.
(*)
Geraldo Oliveira é blogueiro, servidor concursado da Câmara Legislativa,
morador de Vicente Pires, Vice-Presidente eleito da UNAVIP e Diretor da AMOVIPE
– Associação de Moradores de Vicente Pires e Região.
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