Imagine uma linda e cobiçada mulher. Bela, rica, cheia de potencial e desejada por todos. Assim, em sentido figurado, é como moradores da cidade descrevem Vicente Pires: uma joia preciosa do Distrito Federal que, ao longo dos anos, foi usada, abusada e abandonada por quem deveria cuidar dela.
A metáfora, forte e carregada de emoção, foi adotada por lideranças comunitárias para expressar a indignação com o descaso histórico que marca o desenvolvimento da região. Em um tom de desabafo, denunciam a forma como políticos, gestores e até pessoas que se passaram por lideranças locais se aproximaram da cidade apenas com interesses pessoais, sugando tudo o que podiam e desaparecendo quando não havia mais ganhos a tirar.
Usada, Abusada e Deixada para Trás
A história de Vicente Pires, segundo essa visão, é marcada por “conquistadores baratos”, que se aproximaram da cidade como quem flerta com uma mulher apenas pelo prazer momentâneo. Prometeram amor, desenvolvimento e compromisso, mas quando chegou o momento de assumir responsabilidades — como cuidar da infraestrutura, da saúde ou da população — sumiram ou detuparam tudo ao seus interesses pessoais. Muitos dos projetos iniciados, como o famoso “filho dos 504 milhões” e as obras de pessima qualidade, projeto perfeitos depurpados e a cidade abandonada, são filhos deixados à própria sorte.
O Início do Sofrimento
O sofrimento dessa “mulher” começou ainda na infância. O Governo do Distrito Federal, sem ser seu legítimo “pai”, parcelou e distribuiu terras a “noivos chacareiros” que, em muitos casos, jamais foram produtores. Vieram pela vantagem, não pelo compromisso. Quando começaram a transformar as chácaras em lotes, até mesmo as associações criadas para proteger a cidade se corromperam, buscando ganhos próprios.
Promessas Vazias e Gestores Oportunistas
A cidade foi ocupada por diversos administradores que, sob o pretexto de ajudar, apenas se fartaram dos benefícios. Parentes e aliados políticos foram abrigados nas estruturas públicas, prometeram mudanças, mas deixaram a cidade destruída e sem assistência.
A cada nova “transa política”, a cidade engravidava de promessas: escolas, postos de saúde, asfaltos e regularização fundiária. Mas os “pais” sumiam. Os filhos, os projetos, foram criados por quem ficou — os verdadeiros moradores, que sustentam a cidade com esforço, trabalho e amor genuíno.
Novos Estupradores da Esperança
A crítica se estende à atual administração. Segundo moradores, novamente a cidade foi “agarrada à força” por forasteiros que prometeram ser diferentes, mas mostram-se iguais aos anteriores. Esses chegaram ao poder apoiados pelos empresários que sempre seguraram a donzela para outros estuprarem e querem continuar levando sua parte.
A metáfora de um “estupro político” é utilizada com dureza para destacar o uso contínuo da cidade sem que haja real interesse pelo seu bem-estar.
E com as “filhas” de Vicente Pires — como a Colônia Agrícola 26 de Setembro, a Colônia Agrícola Samambaia e Cana do Reino — a situação é ainda mais grave: nem sequer há fingimento de compromisso. A violência institucional é escancarada, e essas áreas são usadas como moedas políticas de troca, sem qualquer planejamento urbano responsável. Tudo isso sem falar que algumas pessoas se posam de lideranças, mas se uniram aos estupradores para também dar uma, em seu benefício próprio, ganhando cargos indicados no governo.
Um Clamor por Respeito e Esperança
Diante de tudo isso, surge a pergunta: até quando? A resposta ainda é incerta. Mas o que a comunidade reafirma é que sempre existirão aqueles que, mesmo diante do abandono, cuidarão dos “filhos” deixados e tratarão das feridas da cidade com amor, solidariedade e verdadeiro espírito público.
Vicente Pires ainda carrega a esperança de um final feliz — e esse desfecho só será possível com respeito, planejamento e compromisso verdadeiro com quem realmente vive e constrói a cidade todos os dias.
Gilberto Camargos
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